O que significa Transprojetação?

A Transprojetação é uma metodologia fundamentada nas obras de Edgar Morin e Michel Thiollent.
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E GESTÃO PARA A SUSTENTABILIDADE com a Soft Systems Methodology e a Pesquisa-ação.



sábado, 6 de fevereiro de 2016

SEGREDOS QUE FAZEM DA ALEMANHA A ECONOMIA MAIS SÓLIDA DO MUNDO!!!

(BBC, 29/01/2016) 1. Milagre do pós-guerra, a "economia social de mercado" alemã parece ser inabalável: superou as explosões nos preços do petróleo nos anos 1970 e 1980, o impacto da reunificação nos 1990, a recessão mundial de 2008-2009 e está passando firme pela atual crise que atinge a zona do euro. Hoje, o país é um dos três maiores exportadores globais, tem o crescimento per capita mais alto do mundo desenvolvido e um índice de desemprego de 6,9%, bem inferior à média da eurozona, de 11,7%.
   
2. Segundo o professor Reint Gropp, presidente do Instituto Hall para a Investigação Econômica (IWH), da Alemanha, o modelo germânico se diferencia de forma muito clara do anglo-saxão dos Estados Unidos e do Reino Unido. Mas o que faz dele algo tão particular? Quais são os segredos de seu êxito? "É um sistema baseado na cooperação e no consenso mais do que na competência, e que cobre toda a teia socioeconômica, desde o setor financeiro ao industrial e ao Estado", explicou Gropp à BBC Mundo.
    
3. A chamada "economia social de mercado" teve sua origem na Alemanha Ocidental do pós-guerra, que estava sob o governo democrata-cristão do chanceler Konrad Adenauer, e se manteve, desde então, como uma espécie de política de Estado. Sebastian Dullien, economista do Conselho Europeu de Relações Exteriores, concorda que o consenso e cooperação estão presentes em todos as camadas da economia. "No centro estão os sindicatos e os patrões, que coordenam salário e produtividade com o objetivo obter um aumento real dos rendimentos dos funcionários, além de manter os postos de trabalho. A integração é tal que, por lei, os sindicatos estão representados no conselho de administração, participam das decisões estratégicas nas empresas", afirmou.
  

4. No sistema financeiro, as cooperativas e os poderosos bancos públicos se encarregam de fazer com que o crédito alcance a todos, não importa o tamanho da empresa ou o quão distante ela fica de um centro econômico. Essa filosofia permite superar uma das limitações do sistema anglo-saxão, no qual as pequenas e médias empresas, diferentemente das multinacionais, não têm acesso ao mercado de capitais e muitas vezes enfrentam dificuldades para se financiar.
   
5. "Os bancos públicos têm regras claras. Por exemplo: para favorecer o desenvolvimento local, podem emprestar para empresas de sua área, mas não para as de outras regiões. O governo tem representantes nestes bancos, e eles são fundamentais na tomada de decisões. Um princípio que rege sua política de crédito é a manutenção do emprego", afirma Gropp.
   
6. 'Mittelstand'. Esse modelo está enraizado na história germânica. A unificação nacional de 1871, sob Bismark, reuniu 27 territórios governados em sua maioria pela realeza e que haviam crescido rapidamente e de forma autônoma durante a Revolução Industrial.  Dessa semente histórica surgem as Mittelstand (pequenas e médias empresas), que, segundo os especialistas, formam 95% da economia alemã. Diferentemente do modelo anglo-saxão, centrado na maximização da rentabilidade para os acionistas (objetivo de curto prazo), as Mittelstand são estruturas familiares com planos a longo prazo, forte investimento na capacitação do pessoal, alto sentimento de responsabilidade social e forte regionalismo.
   
7. "A Alemanha é especialmente forte em empresas que têm umas 100 ou 200 pessoas. Com uma característica adicional: apesar de seu tamanho, muitas dessas firmas competem no mercado internacional e são exportadoras", explica Dullien.

Ex-Blog CM

TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS

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Há alguns anos, a Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor, abandonadas na via pública. Uma no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.
Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram.Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.
Mas a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Evidentemente, não é devido à pobreza, é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma idéia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação. Faz quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras. Induz ao “vale-tudo”. Cada novo ataque que a viatura so fre reafirma e multiplica essa idéia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Baseados nessa experiência, foi desenvolvida a ‘Teoria das Janelas Partidas’, que conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores. Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
Se se cometem ‘pequenas faltas’ (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar com o sinal vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e delitos cada vez mais graves.Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pesso as forem adultas.
Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas, estes mesmos espaços são progressivamente ocupados pelos delinquentes.
A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: lixo jogado no chão das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.
Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de ‘Tolerância Zero’. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às norm as de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.
A expressão ‘Tolerância Zero’ soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinqüente, pois aos dos abusos de autoridade da polícia deve-se também aplicar-se a tolerância zero.
Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito.Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.
Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na rua onde vivemos.
A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.
Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.
Reflita sobre isso!
  The police and neighborhood safety BROKEN WINDOWS by JAMES Q WILSON AND GEORGE L. KELLING
James Q. Wilson is Shattuck Professor of Government at Harvard and author of Thinking About Crime. George L. Kelling, formerly director of the evaluation field staff of the Police foundation, is currently a research fellow at the John F Kennedy School of Government Harvard

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Futuras gerações de engenheiros terão de ser parceiras da natureza

Responsabilidade Social e AmbientalSustentabilidade13 de outubro de 2011
X CBDMA (Congresso Brasileiro do Meio Ambiente) debate papel dos profissionais diante de paradigmas que desafiam a construção civil
Por: Altair Santos
Uma nova geração de engenheiros e arquitetos começa a ganhar espaço na construção civil. Trata-se dos sustentabilistas, que planejam obras que busquem parceria com o meio ambiente, em vez de querer confrontá-lo. O desafio destes novos profissionais é levar qualidade de vida às cidades, cujo tema estará no centro dos debates que acontecerão no XCBDMA (Congresso Brasileiro do Meio Ambiente), promovido de 26 a 28 de outubro pelo Clube de Engenharia Brasil, no Rio de Janeiro.
Virgínia Salerno: engenheiros desenvolvimentistas tendem a perder espaço para os sustentabilistas
Segundo a coordenadora do evento, a engenheira e arquiteta Virginia Maria Salerno Soares, o novo olhar que engenheiros e arquitetos demonstram ter em relação à natureza revela que há boas chances da construção civil e do meio ambiente encontrarem uma convivência harmoniosa. “As novas gerações estão vindo com uma consciência maior sobre a relação entre o homem e o meio ambiente. Imagino que elas pensam em respeitar mais a natureza em seus projetos, ao invés de querer controlá-la de forma abusiva. Mas ainda há os desenvolvimentistas, engenheiros de gerações mais antigas, que ainda acreditam que isso é intriga da oposição”, diz.
Para Salerno, a busca do ponto de equilíbrio entre construção civil e meio ambiente passa por investimento em pesquisa e descoberta de novos materiais. “Não há como fazer diferente, este é o único caminho: investir em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), mirando o desenvolvimento sustentável, com metodologias que abarquem o equilíbrio entre as variáveis econômicas, sociais e ambientais”, avalia, completando que as escolas de engenharia têm papel fundamental nesta engrenagem: “Para isso, será necessário mudar o pensamento dos professores que hoje atuam nestas escolas. Em sua grande maioria, são professores ainda treinados com uma visão cartesiana e linear de ciência”.
A organizadora do X CBDMA, no entanto, acha que as universidades já demonstram interesse em mudar.  “Na verdade, o setor educacional é uma grande roda e como toda grande roda o seu movimento é lento e gradual. Mas para entender o conhecimento da sustentabilidade é necessário enfrentar a complexidade e os paradigmas que a cercam. Acredito que, conforme a sociedade cobrar mais tecnologias sustentáveis, mais avanços serão comemorados. No entanto, ainda temos muito que caminhar”, afirma.
Código Florestal
Entre os debatedores que estarão abordando a qualidade de vida nas cidades, dentro do X CBDMA, destacam-se o economista e ambientalista Sérgio Besserman e o arquiteto, paisagista e urbanista francês Thierry Jacquet, que colabrou na despoluição do rio Sena, em Paris, e projetou a reconstrução de mananciais em três rios no entorno de Shangai, na China, além da reurbanização da Baia de Alger, na Argélia. Por isso, há expectativa de que o novo Código Florestal, no tocante às cidades, seja abordado no congresso. “Como o meio ambiente é matéria transversal, certamente este assunto entrará na pauta dos nossos debatedores durante as mesas redondas”, prevê Virginia Maria Salerno Soares.
Nova geração de engenheiros vai precisar respeitar a natureza, em vez de querer confrontá-la
Entrevistada
Virginia Soares, coordenadora da Divisão de Ciência e Tecnologia do Clube de Engenharia
Currículo

– Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UFRJ, em 1990
– É mestre em Engenharia dos Transportes, com ênfase em “Análise e Diagnóstico de Empresas de Transporte”, pela Coppe/UFRJ, em 1997
– Tem doutorado em Engenharia de Produção, com ênfase em “Metodologias de Pesquisa, Projeto e Gestão Participativa para a Inovação Tecnológica e o Desenvolvimento Sustentável”, pela Coppe/UFRJ, em 2003
– É gerente de Recursos Humanos da CET-Rio desde janeiro de 2009
– Diretora do Centro de Educação para o Trânsito da CET-RIO desde outubro de 2007.
– Conselheira do Clube de Engenharia junto ao CONEMA
– Coordenadora da Divisão de Ciência e Tecnologia do Clube de Engenharia
– Foi professora adjunta da cadeira de Metodologia e Pensamento Lógico, da UNIGRANRIO (Universidade do Grande Rio) e pesquisadora da COPPE-UFRJ, no Projeto Pesquisa Participativa para Formação Profissional Negociada (PPFPN), promovido pela CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) e pelo Ministério do Trabalho
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

LINGUAGEM E NEGOCIAÇÃO NA PROJETAÇÃO: UMA ABORDAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


  
Coppe/UFRJ – Programa de Engenharia de Produção - recém doutora; Tel.:  2562-7048;
Autor: Virginia Maria Salerno Soares


Este artigo trata da linguagem e da negociação na projetação relacionadas a um contexto participativo de troca entre os stakeholders (as pessoas envolvidas na projetação). Inicialmente definimos projetação para em seguida falarmos da importância de um determinado tipo de “modelo heurístico” simples que viabilize negociações para implantação de projetos.  Abordamos o contexto de risco em que se encontra a nossa sociedade e recorremos as ”regras” de linguagem de Wittgenstein e a vida da linguagem de Edgar Morin. Recorremos também aos modelos comportamentais de Schon e mostramos que o modelo menos defensivo de abordagem serve de exemplo ao comportamento mais apropriado na negociação. Falamos também do aspecto sistêmico na negociação citado por Martinelli. 

Para falarmos de linguagem e negociação na projetação devemos em primeiro lugar definir projetação. Inserida no “paradigma” da pesquisa-ação a projetação é um setor especial da metodologia que tem caráter e ação de extensão relacionada às áreas de engenharia, arquitetura e design. No entanto, não concebemos a palavra projetação sem que ela abranja um processo contínuo de reflexão-investigação-reflexão-análise (verificação de hipóteses e causas dos problemas)-reflexão-modelagem-reflexão-participação-reflexão-implantação-reflexão-monitoração-reflexão-correção-.......e assim circularmente, ou melhor “espiraladamente”.

Neste trabalho vamos nos ater à questão da participação-reflexão-implantação, por exemplo, sabemos por experiência, que as dificuldades de execução e principalmente de implantação de um projeto reside nos problemas de comunicação entre interlocutores (stakeholders). Esta comunicação deve ser à base de um processo de negociação que abrace toda a projetação. Para nos auxiliar nessa abordagem, diferentes visões foram utilizadas a cerca da linguagem e do processo de comunicação e de negociação, este último, pesquisado em Martinelli (2002).

A pergunta inicial é: como inserir o homem de cultura latino-americana aos princípios da linguagem que leve a realização de idéias? A adoção dos fins da ciência da linguagem de Wittgenstein (1985), aliada a um comportamento “ideal” para negociação traduzido por Schön (2000) em um contexto de risco, como descrito por Giddens, Beck e Lash (1997), pode indicar um caminho.

No entanto, queremos lembrar também que, não se trata apenas de querer disciplinar, sistematizar ou mesmo transformar pessoas e suas linguagens inseridas em uma cultura latino-americana normalmente falantes, tagarelas e verborrágicas, para uma cultura anglo-saxônica, mais reflexiva (comportamento adquirido pelas próprias condições de contextos – geográfico, histórico, etc). Trata-se antes de constatar que: a linguagem do latino americano, normalmente, é marcada por palavras vazias, com pouco conteúdo e dotadas de senso comum a cerca das coisas do mundo. É a linguagem do “falatório”. (Na verdade, objetivamos menos, temos maior dificuldade de transformar e de “conceber” se compararmos a indivíduos de culturas mais ao norte do planeta. Por outro lado somos mais criativos e dotados de outros tipos de inteligência (sobre este assunto, ver Gardner, 1995).)

Heidegger (1997) confirma que, no sentido da obra, do tangível, o falatório não está empenhado no acontecimento, não há compromisso com a realização. A ambigüidade (entre o ser acessível ou o dizer que é acessível...) será a primeira a ter o cuidado para que se morra imediatamente o interesse pela coisa realizada.

“...É que, com a realização, a pre-sença se vê sempre remetida a si própria. O falatório e a curiosidade perdem o seu poder. E, por isso, se vingam. Face à realização do que se pressente em comum, o falatório lança logo mão de uma constatação fácil: isso qualquer um poderia ter feito, pois também já o tinha pressentido. Em última instância, o falatório não está sequer empenhado em que o que ele pressente e continuamente requer aconteça realmente. Pois, com isso, ser-lhe-ia arrancada a oportunidade de continuar pressentindo.” (Heidegger, 1997 : 234)

Nesse sentido, Heidegger, nos ajuda a compreender que devemos anular claramente do processo de negociação o “falatório”, tendo em vista a projetação. Subseqüente a esta idéia recorremos a Wittgenstein (1985: 27), que corrobora dizendo as seguintes palavras:  ... o que é de todo exprimível, é exprimível claramente; e aquilo de que não se pode falar, guarda-se em silêncio.”. Frase clássica do autor, relacionada a sua primeira obra, traduz o caminho mais coerente para realização do que idealizamos e projetamos no campo da concepção das idéias e na operacionalização das coisas. Necessárias ao mundo simbólico (Soares, 2003), daquilo que pretendemos transformar e melhorar. Situando claramente e objetivamente aquilo que sabemos “a priori” do nosso mundo real, controlável.

Para Wittgenstein (1985 : 27-28) a linguagem é o sentido das coisas que podem ser pensadas por nós. Desenhada “à linha da fronteira da expressão do pensamento deveríamos ser capazes de pensar ambos os lados dessa linha (deveríamos ser capazes de pensar aquilo que não se deixa ser pensado). Assim, a linha da fronteira só poderá ser desenhada na linguagem e o que jaz para lá da fronteira será simplesmente não-sentido.”

Na projetação a linguagem apropriada está relacionada ao pensamento que faz sentido. Uma negociação não deveria existir fora desse domínio (a não ser aquela que transcende aos domínios espaciais e temporais, relacionados as nossas vozes internas entre consciência e aquilo que está subjacente). E que, no entanto, já esteja descortinado, absorvido pela consciência e organizado pelo pensamento. Nesse sentido Wittgenstein (1985 : 30) afirma que “não podemos pensar objectos espaciais fora do espaço e objectos temporais fora do tempo,” porque “...não podemos pensar em nenhum objecto fora da possibilidade da sua conexão com outros.”

Para Wittgenstein (1985 : 52) “Os acordos tácitos para a compreensão da linguagem corrente são enormemente complicados.”

“A linguagem mascara o pensamento. E tanto assim que da forma exterior da roupa não se pode deduzir a forma do pensamento mascarado; porque a forma exterior da roupa é concebida, não para deixar reconhecer a forma do corpo, mas para fins inteiramente diferentes.”
Fantasia e realidade estão estimuladas no nosso mundo simbólico, no entanto, se quisermos de alguma maneira torná-lo menos des-controlável podemos pautar a linguagem e a comunicação a uma ética na negociação, e isto equivale a dizer que seremos postos a prova na ação. Wittgenstein, (1985 : 138) aborda de modo brilhante essa questão, ainda no “Tratado Lógico-filosófico”. Quando ele afirma que “todas as proposições têm o mesmo valor.”, ele diz que “por isso não pode haver proposições da Ética. As proposições não podem exprimir nada do que é mais elevado.”

“É óbvio que a Ética não se pode pôr em palavras. A Ética é transcendental. (A Ética e a Estética são Um.)” (O grifo é nosso). Portanto, “...tem que existir uma espécie de recompensa ética e castigo ético, mas estes têm que estar na própria acção. (E é óbvio que a recompensa tem que ser algo de agradável e o castigo algo de desagradável.)” (Wittgenstein, 1985 : 138)

Essa conclusão de Wittgenstein permite-nos relacionar ética e projetação e pode explicar a importância desse Um na projetação. O resultado de um projeto, negociado e participativo, pode ser “avaliado” pelo acontecimento, que pode ser uma recompensa ou um castigo; ou mesmo, os dois.

No entanto, se quisermos utilizar determinadas “regras” de linguagem expostas aqui, teremos que “reconhecer” o mundo simbólico e as diversas formas de vida que habitam neste mundo. Por exemplo, Wittgenstein (1985 : 183) já em um outro momento da sua filosofia, corrobora, afirmando que: “...conceber uma linguagem é conceber uma forma de vida.” Nesse sentido, Wittgenstein (1985 : 189) relaciona as formas de vida aos jogos de linguagem de cada organização (expressão que realça “...o facto de que falar uma língua é uma parte de uma actividade ou de uma forma de vida.”, afirma o autor), onde ele acredita que inúmeras espécies de proposições existem concebidas a partir de “...ordens e comunicados no campo de batalha”  da vida e da sobrevivência da própria humanidade. 

“Mas quantas espécies de proposições há? Talvez asserção, pergunta e ordem? Há um número incontável de espécies: incontáveis espécies diferentes da aplicação daquilo a que chamamos [[símbolos]], [[palavras]], [[proposições]]. E esta multiplicidade não é nada de fixo, dado de uma vez por todas; mas antes novos tipos de linguagem, novos jogos de linguagem, como poderíamos dizer, surgem e outros envelhecem e são esquecidos...” (Wittgenstein, 1985 : 189)
           
Em um processo de negociação diversos jogos podem e devem ser observados e percebidos pelos interlocutores. Há uma multiplicidade de ferramentas de linguagem e modos de aplicação, a cerca da “...multiplicidade das espécies verbais e proposicionais, com o que os lógicos tem dito a cerca da estrutura da linguagem. (E também o autor do Tractatus Lógico-Philosophicus.)” afirma Wittgenstein (1985 : 190)
           
Por exemplo, sempre que estamos negociando podemos encarar diversos atores, às vezes diferentes daqueles que esperávamos encontrar e aqueles que estão externamente ao campo de negociação (mas que são ocultos e fundamentais no processo, porque exercem influência). Não há um espaço real de controle, por isso, um comportamento menos defensivo, conforme aponta Schön (2000) é necessário, além de uma consciência “plena” de que estamos chegando em uma terra desconhecida e aprendendo “...algumas vezes a língua dos seus habitantes através de explicações ostensivas, que estes lhe darão...”, portanto, muitas vezes teremos que adivinhar a interpretação destas explicações. Algumas vezes adivinharemos corretamente, outras vezes incorretamente, como afirma Wittgenstein (1985 : 197)
           
Esse problema de interpretação é fundamental para a compreensão do modo como “levar adiante” o processo de negociação. Apesar de regras estabelecidas “a priori” elas dificilmente se tornarão explícitas durante o processo de linguagem e negociação, (durante o estar no “olho do furacão”) porque não há como estabelecê-las claramente. Normalmente “...uma regra é como um sinal postado no meio do caminho...” , como afirma Wittgenstein (1985 : 242).

Para nós a regra só será ultrapassada ou derrubada com uma ação reflexiva. Um caminho apontado pelo autor é o da explicação que “...serve para afastar um equívoco ou para o impedir – portanto um equívoco que sem ela poderia surgir; mas não para afastar todos os equívocos que eu possa conceber.” (Wittgenstein, 1985 : 245) E isso deve estar claro para o negociador. Aquilo que falamos em alguns momentos, sobre o diminuir ou minorar o risco da comunicação se repete com esta afirmação. Os equívocos sempre existirão.

Por isso Wittgenstein (1985 : 261) vai além, ele acredita que uma das principais fontes de incompreensão “...reside no facto de não termos uma visão panorâmica do uso das nossas palavras.” Ele afirma que a nossa gramática não nos deixa ver panoramicamente. – “A representação panorâmica facilita a compreensão, a qual de facto consiste em [[vermos as conexões]].” E buscarmos termos intermédios para isso.

“O conceito da representação panorâmica tem para nós um significado fundamental. Designa a nossa forma de representação, a maneira como vemos as coisas. (É isto uma [[maneira de ver o Mundo]])?” (Wittgenstein, 1985 : 261)

Para nós, a maneira de ver o mundo – a “weltanchaung – é um elemento de consideração essencial. Qualquer tipo de investigação que queira levar adiante a implantação de um projeto deve considerar a visão de mundo dos stakeholders.

Então, as regras e uma visão panorâmica podem ser os termos que precisam ser conectados e estabelecidos em uma negociação. Além, principalmente, da vivencia, experiência, senso de observação e de audição, muito mais do que de falatório e elocução.

No entanto, para Wittgenstein (1985 : 320) os fundamentos da investigação podem apontar as regras que devem ser seguidas, tanto no processo de investigação quanto na linguagem utilizada para a negociação, durante a defesa de um determinado modelo. “...não pode ser que uma regra tenha sido seguida uma única vez por um único homem. Não pode ser que uma comunicação tenha sido dada ou compreendida apenas uma vez. Seguir uma regra, fazer uma comunicação, dar uma ordem, jogar uma partida de xadrez são costumes (usos, instituições).”

Assim Wittgenstein (1985 : 320) vai mais além “...compreender uma proposição significa compreender uma linguagem. Compreender uma linguagem significa dominar uma técnica.” Quando ele afirma esse domínio, ele tenta sistematizar a linguagem e explorar a questão dos símbolos e significados para uma abordagem mais tecnicista, que no nosso entender, abre possibilidades para uma linguagem pragmática, voltada para a negociação. No entanto, devemos também compreender que ela pode ser limitada e artificial.
Wittgenstein (1985 : 346 347) tenta formular critérios que estabeleçam certos graus de certeza para compreensão daquilo que podemos ou não dizer e ouvir. Ele lembra de que existem certos critérios de comportamento, para determinar se a pessoa não compreende uma palavra, que a palavra nada lhe diz e que nada consegue fazer com ela. E critérios para determinar se a pessoa [[crê compreender]] a palavra, que associa com a palavra algum sentido, mas não o correto. E finalmente critérios para determinar que a pessoa compreende a palavra corretamente. Assim ele supõe que “...no segundo caso, poder-se-ia falar de uma compreensão subjectiva. E poder-se-ia chamar[[linguagem privada]] a sons que eu [[pareço compreender]], mas que ninguém mais compreende.”

Por essa razão, a compreensão subjetiva, para nós, dificilmente pode ser eliminada por inteiro no processo de negociação, mesmo que tentemos instrumentalizá-la, no contexto dos estudos da linguagem voltada a epistemologia da Inteligência Artificial, conforme descreve Thiollent (1994).     

“Wittgenstein insistiu sobre a diversidade dos usos da linguagem na determinação do sentido das palavras e proposições em função da diversidade das regras e do contexto. Coloca-se a questão de saber se o uso do computador do futuro será realmente capaz de processar as expressões de linguagem natural correspondente a grande diversidade de seus contextos de uso, nas circunstâncias cambiáveis da atividade humana e da vida social. ” (Thiollent, 1994 : 7)

As possibilidades da Inteligência Artificial no processo de negociação e da tomada de decisão ainda são remotas, não podemos eliminar a questão da compreensão subjetiva. Por exemplo, detectores de mentiras apontam diagnósticos pouco precisos; os fatos, apesar de alguns deles serem hoje filmados e monitorados, ainda não dominam toda a ação. Instrumentos como esses ajudam, mas não desvendam em um primeiro momento intecionalidades e sentimentos. Na verdade, afirma Wittgenstein (1985 : 374) “...a intenção está imersa na situação, nos costumes e nas instituições dos homens...” E aqui voltamos a questão do mundo simbólico.

 No contexto da difusão de tecnologia e das discussões entre não-especialistas e especialistas, Thiollent (1994 : 14-15) afirma que na linguagem artificial, a tentativa de transpor as palavras “socialmente associadas ao contexto da intelecção humana (pensar, raciocinar, sentir, aprender, entender, dialogar etc.)...” há um mal-entendimento entre os especialistas e o público. “Os primeiros usam, além de termos e siglas desconhecidos do público, palavras comuns num sentido não-ordinário, isto é, com pouca relação com a vida cotidiana.” Enquanto, “o público rebaixa todas as palavras comuns ao nível dos hábitos de compreensão da vida cotidiana, sem perceber as distorções semânticas. As regras de uso das palavras são diferentes de um contexto para o outro. O que cria uma certa dificuldade de compreensão e, talvez, uma série de ilusões.”

Essas ilusões são facilmente demonstráveis, quando tentamos aplicar um determinado modelo tecnológico, advindo de uma cultura alemã para uma cultura latina. O resultado é sempre o mesmo: sucateamento da tecnologia, perdas econômicas e neuroses por acessos não codificáveis em tempo hábil para o uso daquela tecnologia. 

Wittgenstein diz: “A linguagem cotidiana é uma parte do organismo humano e não é menos complicada do que este último. É humanamente impossível extrair imediatamente a lógica da linguagem...” (Thiollent, 1994 : 20)
Nesse sentido, Morin corrobora a idéia de Wittgenstein, para uma inteligibilidade complexa Morin coloca a linguagem como um ser vivo, e segue dizendo que “...como a organização biológica, mas evidentemente de sua maneira própria, com seus constituintes próprios, com o seu modo e no seu mundo próprios, a organização da linguagem é genofenomenal” (Morin, 1991 : 146-147)

Esses constituintes próprios da linguagem incluiriam o indivíduo e a adequação do seu conteúdo ‘a sua competência - desempenho, e as suas inter-relações como seu meio socio-cultural. “Lembremos que, sob o ponto de vista de uma linguagem, o ser socio-cultural é o ecossistema global onde ela vai buscar organização e vida, mas que do ponto de vista do ser socio-cultural, a linguagem é inerente a sua organização”, afirma Morin (1991 : 146)

Desse ponto de vista, para contextualizarmos, podemos considerar a nossa “organização social”, hoje, como uma “sociedade de risco”. E, dessa maneira, devemos apreciá-la. 

Na sociedade de risco – uma nova linguagem e visão de negociação

 As teses de Giddens, Beck e Lash (1997) retratam bem o contexto em que se encontra a nossa sociedade e que caminhos deveremos seguir para reafirmarmos os valores do desenvolvimento sustentável. No entanto, como poucos sabem, este desenvolvimento deve abranger todos os setores, inclusive o econômico, este último afirmado, até hoje, como único e estabelecido em torno do método científico clássico, cuja ferramenta principal é a estatística e a análise matemática.

Na visão pós-moderna alimentada pelos paradoxos do conhecimento humano que vem anunciando freqüentemente à morte da epistemologia, segundo os autores da obra “Modernização Reflexiva”, todas as coisas podem ser compreendidas em termos de senso comum. Contudo, isso não significa que estamos sendo conduzidos “...a uma situação que nos permita ser, coletivamente, os donos do nosso destino. Ao contrário: o futuro se parece cada vez menos com o passado e,  em alguns aspectos básicos, tem se tornado muito ameaçador.”  (Giddens, Beck, Lash, 1997 : 8-9)

Essa imprevisibilidade, de fato, não pode ser minorada nem reduzida sem que uma nova visão de desenvolvimento seja entendida. Um desenvolvimento equânime que traduza um certo equilíbrio em torno dos diversos tipos de conhecimentos e da valorização humana.

Nessa perspectiva os autores, Giddens, Beck e Lash, (1997) colocam como necessidade à noção de risco, que é fundamental no contexto da nossa cultura moderna. Para os autores devemos pensar do tipo “como se”, construindo futuros potenciais, sabendo desde já que eles podem não acontecer; e que novas áreas de imprevisibilidade são freqüentes, criadas pela própria tentativa de controlá-las. Giddens (1997 : 76) afirma que “...Quanto mais tentamos colonizar o futuro, maior a probabilidade de ele nos causar surpresas.”  Assim, uma visão sustentável é necessária, não como certeza, mas sim, como raiz para construção de um círculo virtuoso de desenvolvimento de longo prazo.

Para tentar explicar melhor essa questão, a tese de Giddens, que se refere às visões de tradição e modernidade, é uma boa referência. Com sua eloqüência ele utiliza a expressão invasão e até “destruição” da natureza causada pela socialização, dissolvendo a tradição e provocando a emergência de novos tipos de incalculabilidade e claro, alta incerteza e risco.

Este quadro traçado por Beck, Giddens e Lash (1997) exigirá de todos nós uma ação reflexiva, inclusive nos nossos processos de negociação. Nossa linguagem deve tornar-se cristalina e bastante objetiva, para entrarmos em um processo virtuoso de linguagem reflexiva para ação e construção de nossos objetivos. O modelo II de Schön (2000) garante certamente essa construção cognitiva.

Beck (1997 : 15-16) afirma ainda que as próprias “instituições da sociedade industrial tornaram-se os produtores e legitimadores das ameaças que não conseguem controlar”, fazendo com que alguns aspectos dessa sociedade tornassem social e politicamente problemáticos. Por exemplo, essa sociedade, por um lado, ainda toma decisões segundo o padrão da velha sociedade industrial, enquanto por outro lado, as organizações de interesses, o sistema judicial e a política são obscurecidos por debates e conflitos que se originam do dinamismo da sociedade do risco. Nesse sentido, uma nova ordem na percepção dos atores das instituições que tomam decisões relevantes deve ser estabelecida.

Compreender essa dicotomia é parte integrante de um bom negociador, são conflitos de interesses relacionados às sociedades tradicionais de que falou Giddens e da nova sociedade moderna.

Nesse sentido, Beck (1997 : 55) cita Carl Böhret que sugere um interessante critério: a “capacidade de negociação” dos interesses sociais. Por exemplo, “...todos os campos problemáticos, que em princípio são ‘negociáveis’ entre os grupos de pessoas e organizações, podem ser ‘socializados’”, significando que podem ser elaborados no sistema de negociação multilateral, com a participação do Estado.

Um outro aspecto que encontramos hoje em nossa sociedade é o descomprometimento, portanto, um bom processo de negociação deve estar situado em um contexto, onde a “democracia dialógica”, ou seja, o reconhecimento da autenticidade do outro, cujas opiniões e idéias estamos preparados para ouvir e debater, torna-se a única alternativa para a violência nas áreas da ordem social em que o descomprometimento não é mais uma opção factível. Giddens (1997 : 130).

Dessa maneira, para superar ou amenizar o risco Giddens, citado por Lash (1997 : 239) desenvolve “...uma noção de “confiança ativa”, que emerge quando as instituições tornam-se reflexivas e as proposições dos especialistas estão abertas à crítica e a contestação. Com essa atividade crítica do público leigo, a confiança nos sistemas especialistas não se torna passiva, mas ativa.” Essa noção desenvolvida por Giddens corrobora a nossa defesa aos critérios das metodologias da pesquisa-ação e na projetação.

Lash (1997 : 241) lembra ainda, a noção de reflexividade institucional de Giddens e Beck, que envolve a transformação dos sistemas especialistas nas esferas públicas democraticamente dialógicas e políticas. Por exemplo, os atores sociais apropriam-se no cotidiano das verdades proposicionais do conhecimento especializado – e que é universal. Seus preceitos agem para desincorporar os significados tradicionais nas esferas da vida cotidiana e na comunidade local.
De acordo com Beck, “as ameaças ecológicas criam um horizonte semântico substantivo de prevenção e ajuda”. Isso começa a se aproximar do significado pleno da reflexividade institucional. “Ou seja, deve-se compreender a reflexividade institucional levando em conta o caminho pelo qual as instituições refletem e constroem o próprio “horizonte semântico” em que se baseiam.” (Lash, 1997 : 247)

Esse horizonte semântico torna-se especialmente particular, cujo negociador deverá conhecer muito bem, para que não se reverta em um processo de perda evidente. A própria linguagem dos atores deve ser reconhecida, através de um processo claro de investigação e pesquisa no ambiente institucional e fora dele, como afirma Lash. Para ele, um dos aspectos mais importante está na proporção crescente das nossas interações sociais e intercâmbios comunicativos acontecerem externamente às instituições.
    
Linguagem, crença e confiança no processo de negociação

A questão da “confiança ativa” defendida e explorada por Giddens (1991 : 39), também pode ser aplicada nas situações de negociação. Por exemplo, “...um indivíduo que não considera alternativas está numa situação de crença, enquanto alguém que reconhece essas alternativas e tenta calcular os riscos assim reconhecidos, engaja-se em confiança. Numa situação de crença, uma pessoa reage ao desapontamento culpando outros; em circunstâncias de confiança ela ou ele deve assumir parcialmente a responsabilidade e pode se arrepender de ter depositado confiança em alguém ou algo.”

Portanto, confiança é noção essencial para as atitudes de negociação, tanto é verdade, que Giddens sugere conceituar diferentemente a confiança de suas noções concomitantes. Para facilitar a exposição, ele dispôs os elementos envolvidos em uma série de dez pontos que inclui uma definição de confiança, mas também uma gama de observações relacionadas a essa definição.

A obra de Giddens (1991 : 104) também indica os ambientes de confiança e risco nas culturas pré-modernas e modernas. Precisamos estar atentos, para distingui-las, quando investigamos uma organização. Acreditamos que o início de um processo de negociação para implantação de um projeto, depende invariavelmente de um posicionamento claro dos negociadores em relação ao “clima da organização”.

Nas culturas modernas, com o desenvolvimento dos sistemas abstratos, a confiança em princípios impessoais (discrepante da confiança básica), tornou-se indispensável à existência social. Segundo Giddens (1991 : 122), “...há uma forte necessidade psicológica de achar outros em quem confiar, mas as conexões pessoais institucionalmente organizadas estão faltando em relação às situações sociais pré-modernas.” Essa é uma questão complicada, quando se trata de educar e formar negociadores no mundo moderno. Por exemplo, “...o tecido e a forma da vida cotidiana foram remodelados em conjunção com outras grandes mudanças sociais. As rotinas, estruturadas por sistemas abstratos têm um caráter vazio, amoralizado; o impessoal submerge cada vez mais o pessoal. Todavia, para Giddens, não se trata de uma diminuição da vida pessoal em prol de sistemas impessoalmente organizados, mas de uma transformação genuína da própria natureza do pessoal.
E o que isto significa em termos de confiança pessoal?, pergunta Giddens. A resposta a esta questão é de fundamental importância, seja para as relações de negócios ou qualquer outro tipo de relação pessoal e íntima. O texto extraído de Giddens define a real importância na construção desta nova sociedade:

“...A confiança em pessoas não é enfocada por conexões personalizadas no interior da comunidade local e das redes de parentesco. A confiança pessoal torna-se um projeto, a ser “trabalhado” pelas partes envolvidas, e requer a abertura do indivíduo para o outro. Onde ela não pode ser controlada por códigos normativos fixos, a confiança tem que ser ganha, e o meio de fazê-lo consiste em abertura e cordialidade demonstráveis. Nossa preocupação peculiar com “relacionamentos”, no sentido em que a palavra é agora tomada, é expressiva deste fenômeno. Relacionamentos são laços baseados em confiança, onde a confiança não é pré-dada, mas trabalhada, e onde o trabalho envolvido significa um processo mútuo de auto-revelação.” (Giddens, 1991 : 123)

A questão de uma nova linguagem e do processo de negociação para realização dos objetivos progressistas e sustentáveis, que aqui defendemos, baseia-se e inicia-se nesses fundamentos. A reflexividade da modernidade está diretamente envolvida com a contínua geração de auto-conhecimento sistemático e de uma relação intrínseca e coerente (pelo menos periódica) entre as nossas palavras e ações. A noção de responsabilidade e da reflexividade permanente é o meio pelo qual podemos atingir essa coerência.

Hábito, linguagem e ação

A relação entre linguagem e ação pode ser verificada em outra obra de Giddens, “Política, Sociologia e Teoria Social”. O autor cita J. L. Austin e Wittgenstein para enunciar o princípio da escolha de um agente, de um observador ou de um intérprete: devemos saber necessariamente o que esse agente conhece e aplica em relação à sua própria ação. A descrição de uma ação não pode ignorar essa qualidade de “adequação” sob pena de se constituir um engano.

Na terminologia wittgensteiniana, que já abordamos anteriormente, a linguagem, se realiza no interior de “formas definidas de vida” usada rotineiramente “por atores leigos como o meio de organizar suas condutas sociais cotidianas” descreve Giddens (1998). Dessa maneira, na pesquisa-ação, assim como na projetação, “[...] os significados das elocuções têm que ser apreendidos em relação à variedade de usos pelos quais a linguagem é enunciada pelos atores sociais – não apenas aquelas que “descrevem”, mas também aquelas que “argumentam”, “persuadem”, “zombam”, “avaliam” etc. etc”, completa Giddens (1998 : 287).

Uma outra abordagem está na relação entre hábito e ação, por exemplo, Lash (1997) acredita que o hábito está muito distante da “ação”. A teoria da ação, fala a linguagem do “ato unitário”, enquanto o hábito a linguagem das atividades contínuas, portanto, o hábito, normalmente, não é reflexivo. Todavia a teoria da ação pressupõe, implicitamente, um ator desincorporado, minimizador do custo e maximizador do benefício, e com preferências determinadas. Ou seja, existe um julgamento, uma reflexão a cerca de algo, fora e dentro do nosso mundo. O hábito, por exemplo, só existe quando situado em seu “mundo”.

Assim a teoria da ação, como traduz Lash (1997 : 187) “...é freqüentemente “construtivista”, em que a ação é a força motriz que está por trás da estrutura, como, por exemplo, em “redes de atores”. O hábito, ao contrário, supõe um certo “arremessar-se” em uma rede de práticas e significados já existentes...”, relacionada à tradição que Giddens se refere. Distinguir o hábito de uma ação reflexiva é fundamental na projetação, principalmente quando estamos no processo de negociação. Esta distinção deverá ser feita no momento em que nos defrontamos com nossas atitudes, encaradas durante a realização do processo de reflexão. Mapas mentais cognitivos também são instrumentos para esse tipo de conscientização (Soares, 2003).

Para reforçarmos um pouco a noção de hábito, a que se refere Lash, precisamos entender como já afirmamos exaustivamente, que o estudo da linguagem passa por culturas determinadas e comunidades especificas. Portanto, o sucesso de uma negociação está em empregar a linguagem mais apropriada, a partir do reconhecimento dos hábitos específicos dos nossos interlocutores, sem, no entanto, reproduzir enganos ou intenções sub-reptícias.

O estudo da linguagem para realização dos nossos projetos requer muito além de nosso entendimento instrumental, tecnológico e frio. Devemos “dominar” símbolos, culturas e diversidade, não para controlar, mas para “descontrolar” o minimamente possível o que nunca tivemos, realmente, controle.

Assim, quando estamos em processo de projeto e na meta-linguagem de negociação, na modernização reflexiva, devemos ter em mente que uma determinada comunidade ou organização está situada em um “mundo”, ou está “mundializada”. Para Lash (1997 : 188) o conhecimento cotidiano e aquele produzido pelas ciências não podem ser, apenas, uma questão de relacionamento entre um sujeito de conhecimento e o mundo, como ocorre na epistemologia. Portanto, o conhecimento comunal é, ao contrário, conhecimento hermenêutico, e este só é possível quando quem conhece está presente no mesmo mundo e “habita entre” as coisas e os outros seres humanos cuja verdade ele busca.

Nessa perspectiva de Lash (1997) novas abordagens e modelos comunicativos devem preponderar na projetação. Modelos de comunicação e negociação participativos são os que servirão ao nosso intento. 

Linguagem – modelos de comunicação participativos

Muito embora existam bibliografias sobre o tema relativos a modelos de comunicação. Nossa pesquisa constatou que a maior parte deles descrevem a relação e a comunicação entre o homem e a máquina e também os modelos de comunicação de massa, normalmente persuasivos, buscando influenciar pessoas ao consumo ou mesmo na influencia sub-reptícia de opiniões e ideologias.

Por exemplo, para Bozzano (1998 : 60) a comunicação não somente importa os aspectos estritamente técnicos, que são os que em geral demandam mais atenção, se não também o conteúdo, relacionados aos aspectos semânticos e a pragmática. Como também, se buscam as relações que existem nos sistemas de comunicação entre homem e máquina e se analisam os distintos aspectos da intensidade comunicativa.
O trabalho de Ross (citado por Galeano, 1997) fala sobre a natureza da comunicação interpessoal, a qual é apresentada como um processo que inclui comunidade de experiências e mutualidade de influências. Nesse caso, Ross afirma que:

“...es muy dificil una persuasión verdadera cuando no existe, por lo menos, una mínima oportunidad de invertir la influencia. Según esto, consciente o inconscientemente, nos comunicamos com la intención de lograr que los otros nos den las respuestas que deseamos. Por tanto, la comunicación interpersonal representa algo más que una interacción para intercambiar significados.” (Galeano, E. 1997 : 73-74)

Billorou (citado por Galeano, 1997: 112-113) em “La comunicación publicitária”, constrói um modelo funcionalista de comunicação. Ele segue uma linha de pensamento, que define a comunicação como “...um proceso medinate el cual um emissor transmite mensajes a um receptor mediante um código común a ambos la finalidad de hacerle llegar uma determinada información y asi persuadirio según convenga a sus propósitos”.

Esse modelo de comunicação, assim como muitos outros podem ser encontrados na literatura. O livro de Galeano (1997) fez o resumo de alguns pontos de vista referentes ao assunto. Todavia, para o nosso intento, vamos dar ênfase ao aspecto da linguagem que defende um “pragmatismo” de quando dizer significa fazer.

Na projetação aspectos de linguagem e negociação devem servir de exemplos para a realização e implantação de nossos projetos. Carneiro (2000 : 29) contribuiu muito nesse sentido. O artigo em que defende o valor pragmático do texto, seja verbal e não-verbal nos permite perceber e empregar, com eficácia, as estratégias de linguagem nos discursos produzidos nos tipos de projeto com base em metodologias participativas.

Os interlocutores devem ser instituídos como sujeitos, para que por meio de “modos de dizer” possam transformar a própria realidade, sem se restringir em demonstrar a relação (lógica) somente existente entre proposições. Essa condição pode ser atingida se os profissionais que saem das universidades tiverem acessos a metodologias que os aproximem mais da realidade não-acadêmica. Em sua grande maioria, os profissionais desvinculam-se do contexto imediato e atuam de forma prescritiva, no sentido da reprodução do saber, deixando, como Carneiro (2000 : 30) enuncia, “...de ser interlocutores e criativos ante as restrições externas.”

No entanto, a perspectiva de interação entre sujeitos ante uma situação a ser transformada requer alguns conceitos de projeto que aglutinem um conjunto ou modelos de conhecimentos sobre o “como fazer” para se alcançar determinado fim, a partir de procedimentos construtivistas, cognitivos ou procedurais. “Por ser uma ação dotada de intecionalidade, desde o planejamento à execução...”, lembra Carneiro, vários dispositivos devem ser acionados no projeto para provocar adesões. Citando Bordenave e Carvalho (1987), Carneiro afirma, nesse contexto que, devemos compreender o projeto como uma “peça” para decisão, um instrumento para estudos de alternativas, necessitando “negociar” a sua aceitabilidade por meio da argumentação ou da persuasão.

Então, se seguirmos nessa linha de raciocínio a linguagem na projetação precisa ser pensada enquanto “lugar”, nos ensina Carneiro (2000 : 40), onde as pessoas devem manifestar sua presença, estabelecer vínculos e direcionar suas ações e os próprios acontecimentos, caracterizando-se assim como uma interação social, diferentemente do que se faz no planejamento normativo, como fato consumado para ação, advindo do ideário positivista.

Nessa perspectiva, os modelos de Schön (2000) e as noções de risco e confiança dadas por Giddens (1991), podem ajudar na “capacitação” e propiciar um comportamento mais adequado nas questões de negociação. Outra abordagem de cunho participativo pode ser encontrada em Paiva e Alexandre (1998) cujo artigo trata de um exemplo da aplicação de um modelo de comunicação participativa, na transferência de informação para comunidades agrícolas.

Paiva e Alexandre (1998 : 36-37) destaca Cebotarev (1983) e seu Modelo de Comunicação Participativa, onde existem 4 sistemas de conhecimento:
1-     O sistema de conhecimento científico do “expert”.
2-     O sistema de conhecimento referente à cultura local.
3-     O sistema do conhecimento tradicional desenvolvido através do tempo;
4-     O último sistema de conhecimento refere-se às realidades econômicas e políticas nas quais a nova “tecnologia apropriada” será aplicada em função das limitações ou vantagens dos mercados, da produção em massa, de considerações sobre o meio ambiente e das mudanças na estrutura do poder, na família e na comunidade.

“...O processo através do qual esses vários “sistemas de conhecimento” são consolidados é um diálogo informado, horizontal e equilibrado.” (Cebotarev , 1983 :11-13, apud Paiva e Alexandre (1998)).
                                                                                                         
Modelo de comunicação reflexiva

Antes de descrevermos os principais aspectos de um modelo de comportamento apropriado para negociação reflexiva, adaptado dos modelos de Interação Interpessoal de Schön (2000), achamos importante mencionar a proposta de abordagem sistêmica na negociação descrita e formulada por Martinelli (2002).

Martinelli (2002 : 14) tem se desdobrado para demonstrar a importância da visão sistêmica na negociação e os benefícios que esta traria para o processo. O autor aponta para o enfoque da arte na “...negociação e a busca do “ganha-ganha” no processo, num contexto de evolução da evolução da consciência humana.”

A interconexão dos três níveis – negociação, administração e sistemas é apontada nos livros e artigos de Martinelli (2002 : 15) estabelecendo uma ligação entre a metodologia sistêmica e a negociação.

O autor defende sua proposta, dividindo-a em onze pontos, a saber: 1. o processo de negociação como sistema de transformação de entradas (estímulos) em saídas (respostas); 2. a importância da comunicação no processo de negociação; 3. as variáveis básicas de um processo de negociação; 4. as habilidades essenciais dos negociadores; 5. o planejamento da negociação; 6. a questão ética nas negociações; 7. o envolvimento de uma terceira parte no conflito; 8. o uso dos tipos psicológicos na solução dos conflitos; 9. a preocupação com as weltanschauungen (W) dos participantes; 10. a capacidade de lidar com as diferentes W dos envolvidos; 11. a busca de uma negociação evolutiva, segundo o principio de hierarquização de sistemas. Martinelli (2002 : 195)
Quase todos esses pontos já foram abordados de alguma maneira na tese de Soares (2003). Principalmente aqueles relacionados ao W de cada pessoa, envolvida na projetação. No entanto, acreditamos, que sem habilidade interpessoal, relativo ao ponto quatro da proposta de Martinelli, não podemos alcançar o círculo virtuoso de uma negociação evolutiva.

A cerca dessa questão, descrevemos, então, o trabalho de Schön (2000) junto a Argyris, que reúne modelos utilizados em uma aula prática reflexiva em habilidades de aconselhamento e consultoria. Estes modelos podem servir de base para o desenvolvimento de uma inteligibilidade interpessoal na dinâmica e no processo de negociação. Seus estudos e pesquisas podem ser fundamentais para a correção de rumos na formação de profissionais que desejam realizar seus projetos e enfrentar a sociedade de risco.

Argyris e Schön construíram um modelo bastante geral para descrever o comportamento interpessoal, especialmente em situações de dificuldades ou estresse. “Os valores (ou variáveis dominantes), as estratégias e os pressupostos deste modelo”, foram listados e chamados de “Modelo I”.

Suas estratégias incluem controle unilateral do ambiente de trabalho e proteção unilateral de si mesmo e dos outros.” (Schön, 2000 : 190). Elas se baseiam em pressupostos para aquisição de valores do Modelo I, por exemplo, as pessoas acreditam que as “interações interpessoais são jogos de vitória ou derrota” e “as outras pessoas não irão detectar minhas estratégias de controle unilateral”. Segundo Schön (2000 : 190), “...as teorias-em-uso de Modelo I contribuem para a criação de universos comportamentais que são do tipo vitória/derrota, fechados e defensivos.” Em universos do Modelo I, os dilemas privados das pessoas não são revelados facilmente, nem conseguimos testar os seus principais pressupostos. A principal conseqüência será a limitação do aprendizado, que os atores Argyris e Schön chamam de “circuito único”, ou seja, o aprendizado gira em torno de estratégias e táticas para a conquista de objetivos pessoais. Neste Modelo I, há pouca ou nenhuma aprendizagem de “círculo duplo” relacionados aos valores e aos pressupostos que motivam nosso comportamento ou o de outra pessoa. Por exemplo, o consultor ou interlocutor (no caso da negociação) do Modelo I pode manter um cliente concentrado em uma agenda pré-estabelecida, sem conseguir, no entanto, perceber as conseqüências advindas do exercício do controle unilateral sobre o cliente.

Dessa maneira, os autores defendem um modelo diferente de teorias-em-uso, que eles chamaram de “Modelo II”.

Para Schön (2000 : 191), “...o Modelo II destina-se a criar um universo comportamental no qual as pessoas possam intercambiar informações válidas, mesmo a respeito de questões sensíveis e difíceis...”, sujeitam os dilemas privados à investigação e fazem testes públicos de atributos negativos, diferentemente do Modelo I que mantém a discussão privativa e inacessível.

Em um universo comportamental de Modelo II, a aprendizagem não se limita a um circuito único, ela também inclui a aprendizagem sobre as variáveis dominantes que estão por trás de estratégias dominantes. Por exemplo, um gerente e seu subordinado podem explorar determinadas questões relativas a algum tipo de conspiração, que um dia os colocou em confronto aberto, completa Schön. (2000 : 191)

Em síntese, a partir das idéias dos autores aqui expostas podemos concluir que: nos encontramos em uma sociedade de risco, onde a confiança é atributo fundamental, se não de sobrevivência. Sabemos que confiança se constrói, portanto, não é comprada nem vendida no supermercado mais próximo. Acreditamos que uma linguagem objetiva e pragmática no processo de negociação pode diminuir o risco e aumentar a confiança dos interlocutores, onde os jogos de linguagem devem servir para um determinado fim, desde que objetivado na direção do ganha-ganha e de propostas comuns e complementares, conforme indica Martinelli (2002). Nesse sentido, as regras devem ser expostas previamente (Wittgenstein, 1985), mesmo sabendo de sua vulnerabilidade durante o processo de negociação (durante o estar no “olho do furacão”). O falatório (Heiddeger, 1997) deve ser previamente excluído do processo, como condição inicial. E as ferramentas e técnicas disponíveis de linguagem, como o diálogo, os modelos mentais e outras técnicas qualitativas de conclave (Soares, Cosenza e Gomes (2001)) também deverão ser incluídas e previamente definidas para o início do processo.

Além desses cuidados, devemos levar em conta que estamos vivendo também em uma sociedade “democrática” (a despeito dos poderes do capital e dos meios de comunicação) e, portanto, participativa. Dessa maneira, diversos interlocutores com weltanschauungen (W) variados devem ser considerados no processo de negociação (Soares, 2003). A inteligência interpessoal deve ser estimulada, a partir de um processo educacional permanente, relacionando-o às formas de educação reflexiva expostas por Schön (2000), através da introjeção de Modelo II e da exclusão de Modelo I.

A negociação postulada a partir do comportamento de Modelo II, além da abordagem sistêmica que Martinelli (2002) propõe, pode atingir mais um passo na compreensão e na ação, em direção a inteligibilidade complexa. Nesse sentido, portanto, precisamos cada vez mais de realizações, mas com uma grande diferença, os meios não poderão mais justificar os fins, porque pela análise e visão complexa estes fins provavelmente, mais cedo ou mais tarde, retornarão aos meios que os originou. O círculo que queremos deve ser virtuoso, originado pela participação da comunidade e, portanto, do nosso desenvolvimento evolutivo enquanto espécie. Elevado pelas nossas reflexões e pela busca do auto-conhecimento, enquanto indivíduo e na busca da individuação e do desenvolvimento sustentável, enquanto coletividade. Para tanto as afirmações e perguntas de Sachs a seguir ficam aqui registradas:
           
“...A era da passagem forçada da decisão do poder político em nome do progresso pela técnica está terminada. Pode haver desenvolvimento se as vias não estão consentidas? Pode haver consentimento se não há diálogo, e diálogo se não há compromisso? Estamos indo para o fim da soberania implícita (no sentido literal, ou seja, político, do termo) da técnica, que a associa, de fato, as formas de autoritarismo político desempenhados no quadro da democracia? Um desenvolvimento sustentável não é fundamentalmente um desenvolvimento ‘negociado’?”(Sachs, 2000 : 79)

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