O que significa Transprojetação?

A Transprojetação é uma metodologia fundamentada nas obras de Edgar Morin e Michel Thiollent.
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E GESTÃO PARA A SUSTENTABILIDADE com a Soft Systems Methodology e a Pesquisa-ação.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fim do Mundo na Cinelândia, por Luis Turiba publicada no Jornal O Globo


Saio de uma genial palestra de Sérgio Besserman na abertura do X Congresso do Meio Ambiente do Clube de Engenharia, e vou comer arroz integral no restaurante natureba da Cinelândia. Pensativo, macambuzo e um pouco tenso, dou minhas 33 mastigadas enquanto penso que o fim da vida inteligente está realmente próximo e nem nos damos conta. Ao contrário: pagamos as contas como se nada estivesse acontecendo e nem pedimos recibo. Realmente, Besserman tem razão: não há almoço de graça.
O economista ex-presidente do IBGE despejou convincentes e científicas informações sobre aquecimento do planeta, fim das geleiras polares, desertificação dos solos, emissão de CO2, avanços tecnológicos, extração de petróleo e os cíclos de cataclismas cósmicos que acontecem de milhões e milhões de anos com a natureza e o planeta. Ele nos convenceu que algo extraordináriamente caótico está anunciado e pautado para o nosso brevíssimo futuro. Suei frio.
Ao sair do almoço macrô – sim, pretendo estar o mais saudável possível para o fim do mundo -, num calor carioca de quase 36 graus, deparo-me com uma simpática horda de anarquistas ocupando a Cinelândia enquanto o tal fim do mundo não vêm. Já são quase 80 barracas ali, com mais de 200 jovens estudantes, artistas, fumadores de maconha e fiscais da natureza. É um movimento planetário de ocupação de espaços públicos. A mobilização é via facebook, não há lideranças, no máximo o monge tailandês Suvedananda dá lições de meditação grupal. Wall Street foi ocupada contra o capitalismo e agora é a vez da Cinelândia. Um perigo, pois podemos ficar sem carnaval.
Acho tudo muito misterioso, embora não acredite em coincidências: um “cabeção” como Besserman prega durante uma hora a “consciência cidadã planetária”, deixando claro na maior instituição de engenheiros brasileiros que, se não pararmos i-me-di-a-ta-men-te com a exploração do petróleo, babáu: o planeta vai aquecer mais 2,3,4, 5 graus e a consequencia da brincadeira é imprevisível. Quase ao mesmo tempo, meninos e meninas vão à praça pública viver o aqui e agora sem rádio e nem notícias das terras civilizadas. Uma atitude revolucionária, sem dúvida, mas também sem esperança futura, sem sonhos pra logo mais à noite.
Um poeta do grupo Ratos Diversos pega um violão desafinado e canta em ritmo de rap um samba de Assis Valente: “anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/ por causa disso minha gente lá no morro/ começou a rezar.”
Penso nisso tudo, principalmente nas meninas e meninos, filhas e netos. Me pergunto: será que dá tempo?

Luis Turiba, poeta e jornalista

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