O que significa Transprojetação?

A Transprojetação é uma metodologia fundamentada nas obras de Edgar Morin e Michel Thiollent.
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E GESTÃO PARA A SUSTENTABILIDADE com a Soft Systems Methodology e a Pesquisa-ação.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

O QUE SERIA "MINHA" ESQUERDA POR EDGAR MORIN, EXTRAÍDO DO DIÁRIO LIBERDADE

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IHU Online - “A esquerda é uma noção complexa, no sentido em que este termo comporta nele mesmo, unidade, concorrências e antagonismos. A unidade está em suas fontes: a aspiração a um mundo melhor, a emancipação dos oprimidos, explorados, humilhados, ofendidos, a universalidade dos direitos do homem e da mulher.”
A análise é de Edgar Morin, filósofo "indisciplinado" francês, nascido em 1921.
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Diretor emérito de pesquisa no CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), Edgar Morin promove uma política de civilização e ao mesmo tempo uma reforma do pensamento. Este intelectual fora da norma analisou bem o fenômeno yé-yé como a nova idade ecológica, as estrelas e a crise da modernidade. O artigo foi publicado no jornal Le Monde, 23-05-2010. A tradução é de Cristina Poersch.
A esquerda. Eu sempre repugnei este “a” unificador que oculta as diferenças, as oposições e os conflitos. Porque a esquerda é uma noção complexa, no sentido em que este termo comporta nele mesmo, unidade, concorrências e antagonismos. A unidade está em suas fontes: a aspiração a um mundo melhor, a emancipação dos oprimidos, explorados, humilhados, ofendidos, a universalidade dos direitos do homem e da mulher. Estas fontes, ativadas pelo pensamento humanista, pelas idéias da Revolução Francesa e pela tradição republicana, irrigaram, no século XIX, o pensamento socialista, o pensamento comunista, o pensamento libertário.
A palavra “libertário” centraliza-se na autonomia dos indivíduos e dos grupos, a palavra “socialista” na melhora da sociedade, a palavra “comunista” na necessidade da comunidade fraternal entre os humanos. Mas as correntes libertárias, socialistas, comunistas tornaram-se concorrentes. Estas correntes encontraram-se também em antagonismos, em que alguns tornaram-se mortíferos, desde o esmagamento da revolta spartakista por um governo social-democrata alemão até a eliminação dos socialistas e anarquistas pelo comunismo soviético.
As frentes populares, as uniões da Resistência foram somente momentos efêmeros.
E após a vitória socialista, em 1981, uma traição, na qual François Mitterrand foi o hábil estrategista, asfixiou o Partido Comunista.
É por isso que eu sempre combati o “a” esclerosante e mentiroso da esquerda, reconhecendo a unidade das fontes e aspirações. As aspirações a um mundo melhor sempre basearam-se na obra de pensadores. Os Iluministas de Voltaire e Diderot, unidos às idéias antagonistas de Rousseau, irrigaram o 1789. Marx foi o formidável pensador que inspirou, ao mesmo tempo, a social-democracia e o comunismo, até que a social-democracia se torne reformista. Proudhon foi o inspirador de um socialismo não marxista. Bakounine e Kropotkine foram os inspiradores das correntes libertárias.
Estes atores são-nos necessários, mas insuficientes para pensar nosso mundo. Fomos obrigados a empreender um gigantesco esforço de repensamento, que possa integrar os inúmeros conhecimentos dispersados e compartimentados para considerar nossa situação e nosso tornar-se no nosso Universo, na biosfera, na nossa História.
É preciso pensar nossa era planetária que tomou forma de globalização na unificação técnico-econômica que se desenvolve a partir dos anos 90. A nave espacial Terra é propulsada a uma velocidade vertiginosa pelos quatro motores incontrolados ciência-técnica-economia-lucro. Esta corrida nos conduz a perigos crescentes, a turbulências crisiques [1] e a críticas de uma economia capitalista desencadeada, à degradação da biosfera, que é nosso meio vital, a convulsões belicosas crescentes coincidindo com a multiplicação das armas de destruição massiva, todos estes perigos desenvolvendo-se mutuamente entre si.
Devemos considerar que estamos, no presente, numa fase regressiva de nossa história. O “colapso” do comunismo, que foi uma religião de saudação terrestre, foi seguido pelo retorno eruptivo das religiões da saudação celeste: nacionalismos adormecidos entraram em virulência, aspirações etno-religiosas, para aceder ao Estado-nação, desencadearam guerras de secessão.
Consideramos a grande regressão européia. Primeiramente, vamos relativizá-la, porque foi um grande progresso a emancipação das nações submetidas à URSS. Mas a independência destas nações suscitou um nacionalismo reduzido e xenófobo. A explosão da economia liberal superexcitou, ao mesmo tempo, a aspiração aos moldes de vida e consumos ocidentais e a nostalgia das seguranças da época soviética, mantendo o ódio da Rússia. Também as idéias e os partidos de esquerda estão no grau zero nas democracias populares.
No Oeste, não é somente a globalização que varreu os direitos sociais do pós-guerra, eliminando um grande número de indústrias incapazes de sustentar a concorrência asiática, provocando as transferências de indústrias eliminadoras de empregos; não é somente a corrida desenfreada ao rendimento que “sugou” as empresas expulsando muitos empregados e operários; é também a incapacidade de partidos considerados para representar o mundo popular de elaborar uma política que responda a estes desafios. O Partido Comunista tornou-se uma estrela anã, os movimentos trotskistas, apesar de uma denúncia justa do capitalismo, são incapazes de enunciar uma alternativa. O Partido Socialista hesita entre sua velha linguagem e uma “modernização” considerada ser realista, ao passo que a modernidade está em crise.
Mais grave ainda é o desaparecimento do povo de esquerda. Este povo, formado pela tradição vinda de 1789, (re)atualizada pela III República, foi cultivado nas idéias humanistas pelos professores, pelas escolas de formação socialistas, depois comunistas, as quais ensinavam a fraternidade internacionalista e a aspiração a um mundo melhor. O combate contra a exploração dos trabalhadores, o acolhimento do imigrante, a defesa dos fracos, a preocupação com a justiça social, tudo isto nutriu durante um século o povo de esquerda e a Resistência sobre a Ocupação regenerou a mensagem.
Mas a degradação da missão do professor, a esclerose dos partidos de esquerda, a decadência dos sindicatos cessaram de nutrir de ideologia emancipadora um povo de esquerda cujos últimos representantes, idosos, vão desaparecer. Resta a esquerda bobo [2] e a esquerda caviar [3]. E então racismo e xenofobia, que nos trabalhadores votando na esquerda, expressam-se somente no privado, entram na esfera política e conduzem a votar, como aconteceu, em Jean-Marie Le Pen. Uma França reacionária exilada na segunda fila no século XX, menos durante o movimento de Vichy, chega na primeira fila, endurecida, chauvinista, com soberania. Ela deseja a expulsão dos imigrantes clandestinos, a repressão cruel dos jovens das periferias, ela exorciza a angústia de tempos presentes no ódio ao Islã, ao magrebino, ao africano, e, discretamente, ao judeu, apesar de sua alegria de ver Israel tratar a Palestina como o cristão tratava o judeu.
A vitória de Nicolas Sarkosy foi devida, secundariamente, à sua astúcia política, principalmente à falta de esquerdas. Sob formas diferentes, a mesma situação na Itália, na Alemanha e na Holanda, países cujo livre pensamento torna-se xenófobo e reacionário.
A situação exige, ao mesmo tempo, uma resistência e uma regeneração do pensamento político.
Não se trata de conceber um “modelo de sociedade” (que poderia ser estático num mundo dinâmico), nem mesmo procurar algum oxigênio da idéia da utopia. Precisamos elaborar um Caminho, que poderá se formar somente da confluência de múltiplos caminhos reformadores, e que trariam, se não for tarde demais, a decomposição da corrida louca e suicidaria que nos leva aos abismos.
O caminho que hoje parece inultrapassável pode ser ultrapassado. O novo caminho conduziria a uma metamorfose da humanidade: a acessão a uma sociedade-mundo de tipo absolutamente novo. Ele permitiria associar a progressividade do reformismo e a radicalidade da revolução. Aparentemente, nada começou. Mas em todos os lugares, países e continentes, incluído na França, há multiplicidade de iniciativas de todas as ordens, econômicas, ecológicas, sociais, políticas, pedagógicas, urbanas, rurais, que encontram soluções aos problemas vitais e são portadoras do futuro. Elas são esparsas, separadas, compartimentadas, ignorando-se umas às outras... Elas são ignoradas de partidos, de administradores, de mídias. Elas merecem ser conhecidas e que suas conjunções permitam entrever caminhos reformadores.
Como tudo é a transformar, e que todas as reformas são solidárias e dependentes umas das outras, não posso aqui recenseá-las, isto será o trabalho de um livro ulterior, talvez o último. Indicamos somente aqui e, muito resumidamente, os caminhos de uma reforma da democracia.
A democracia parlamentar, se esta for necessária, é insuficiente. Seria preciso conceber e propor os modos de uma democracia participativa, realmente nas escalas locais. Seria útil, ao mesmo tempo, favorecer um despertar cidadão, e este é inseparável de uma regeneração do pensamento político, assim como da formação de militantes para os grandes problemas. Seria também útil multiplicar as universidades populares que ofereceriam aos cidadãos uma iniciação às ciências políticas, sociológicas, econômicas.
Seria igualmente preciso adotar e adaptar uma espécie de concepção neoconfuciana nas carreiras da administração pública e nas profissões que comportam uma missão cívica (professores, médicos), isto é, promover uma maneira de recrutamento levando em consideração os valores morais do candidato, suas aptidões à “benevolência” (atenção alheia), à compaixão, sua devoção ao bem público, sua preocupação de justiça e igualdade.
Preparamos um novo começo ligando as três estirpes (libertária, socialista, comunista) acrescentando nelas a estirpe ecológica numa tetralogia. Isto implica, evidentemente, a decomposição das estruturas partidárias existentes, uma grande recomposição de acordo com a fórmula ampla e aberta, o aporte de um pensamento político regenerado.
Certamente, precisamos, antes de tudo, resistir à barbárie que aumenta. Mas o “não” de uma resistência deve se nutrir de um “sim” a nossas aspirações. A resistência a tudo que se degrada o homem pelo homem, às realimentações, aos desprezos, às humilhações, nutre-se da aspiração, e não ao melhor do mundo, mas a um mundo melhor. Esta aspiração que não parou de nascer e de renascer ao longo da história humana, renascerá ainda.

Notas:
1. Neologismo criado pelo autor que significa “relativa às crises”.
2. O termo bobo é a contração de burguês-boêmio. www.dictionnaire.sensagent. [voltar ao texto]
3. Expressão pejorativa cujo progressismo alia-se ao gosto por hábitos mundanos. Dicionário Le Petit Larousse, 2003, página 467.






domingo, 6 de novembro de 2011

Planejando a cidade sustentável Transporte coletivo e combustível verde


3o. Dia do X CBDMA
As mais novas tecnologias no tratamento do esgoto e das águas pluviais
foram apresentadas por Thierry Jacquet, no último dia do X Congresso Brasileiro de Defesa do Meio Ambiente, 28 de outubro. Plantas da flora do próprio ambiente instaladas como jardins funcionam como estações de tratamento: a natureza usada como ferramenta contra a poluição. O sistema, desenvolvido pela Phytorestore, foi responsável pela limpeza de parte do Rio Sena, em Paris, e em outros empreendimentos ecológicos em todo o mundo. Embora essa solução natural para o controle da poluição, capaz de diminuir em cerca de 50% o esgoto lançado por uma família, já seja algo notável, Jacquet destacou a relevância do sistema para a Europa e outras áreas do mundo onde a água é um bem caro. “Na Europa, a água chega a custar três mil euros por ano. Em algumas áreas, é possível chegar a cinco mil euros. Trata-se de um problema real”, explica.
Mobilidade urbana, os desafios do transporte público de qualidade e os combustíveis renováveis também foram temas de destaque do dia 27 de outubro. Rômulo Dante Orrico Filho, professor da COPPE/UFRJ e ex-subsecretário de transportes da cidade do Rio de Janeiro apresentou alguns dos principais pontos que norteiam a área de transportes hoje, tais como a necessidade de se colocar o transporte na agenda política da cidade; reconhecer as mudanças urbanas e a necessidade de se reorganizar os esforços para reestruturar, inclusive financeiramente, a mobilidade em grandes centros urbanos; e o redirecionamento do uso do automóvel pessoal, entre outros.
Segundo Dante, as novas dinâmicas do mundo têm reflexos diretos nas cidades, que hoje se apresentam como policêntricas. “Se antes todos os caminhos levavam ao centro, hoje, já não é bem assim. No Rio, por exemplo, apenas 25% das pessoas utilizam o transporte público em direção ao centro. Há, ainda, uma maior distribuição das pessoas, que passam a ocupar espaços distantes do centro. Nos últimos trinta anos, Copacabana perdeu um terço de seus moradores. A Tijuca perdeu 10%. Por outro lado, Campo Grande cresceu, nesse mesmo período, 140% e Santa Cruz, 230%”, destacou.
O esforço dos últimos cinco anos da Petrobras para a geração de um combustível ecológico e a colocação do Brasil no grupo dos países que buscam alternativas para os combustíveis fósseis foi apresentado por João Augusto Araújo, gerente geral de Produção da Petrobras Biocombustível. Segundo Araújo, os quase 60 anos da Petrobras dedicados ao estudo e extração do petróleo não ajudaram muito no segmento do biodiesel. “O avanço da companhia foi relativamente lenta porque queríamos fazer direito, aos poucos, escutando especialistas e planejando com todo o cuidado”, explica. Presente em todas as regiões do país, a Petrobras Biocombustível tem como um de seus principais focos a distribuição social do lucro através de um trabalho direto com fornecedores locais e pequenos produtores.  “O biodiesel no Brasil, além de ter papel óbvio de combustível nacional no planejamento estratégico do governo, é também vetor de desenvolvimento. A idéia é trazer para a industria os pequenos agricultores, viabilizando a vida dessas pessoas".
A exibição do documentário “O veneno está na mesa”, de Silvio Tendler, sobre o uso abusivo de agrotóxicos no Brasil fechou o terceiro e último dia de congresso.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Batalha moderna contra inimigos invisíveis no ar e na água

Em destaque no segundo dia da décima edição do Congresso Brasileiro de Defesa do Meio Ambiente debates relacionados à saúde e aos impactos decorrentes do descarte inadequado dos resíduos gerados pelas cidades. A falta de saneamento básico, apontado pelo presidente da Cãmara Técnica de Desenvolvimento e Governança Metropolitana da Cidade do Rio de Janeiro, Sérgio Besserman, no dia 26, como um dos maiores gargalos do país, foi colocado em perspectiva nas palestras da parte da manhã, que evidenciaram os perigos relacionados à contaminação do ar e das águas, invisível aos olhos, mas potencialmente perigosa para o homem.

O professor José Luiz Magalhães Rios, coordenador do curso de pós-graduação em Alergia e Imunologia da Faculdade de Medicina de Petrópolis e médico da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, falou sobre a qualidade do ar das cidades e de sua enorme concentração de dióxido de enxofre, óxidos de azoto, monóxido de carbono, ácido sulfúrico e outros gases e partículas inaláveis que, diariamente, nos expõem a grandes riscos. Em contraponto com a atmosfera externa, Rios falou sobre a atmosfera interna, criada pelo homem nas últimas décadas dentro dos prédios selados de escritórios, hotéis e shoppings. Embora diversos indícios apontem para prejuízos à saúde relacionados a tais construções, as pesquisas são inconclusivas. “Ainda há controvérsias nessa área. Os indicadores estudados precisam ser avaliados e novas pesquisas precisam ser feitas. Infelizmente, é difícil conseguir autorização para isso. As empresas costumam temer que o resultado das pesquisas cause processos trabalhistas”, explica Rios.
Marcia Dezotti, professora do programa de engenharia química da COPPE/UFRJ, fez um alerta ainda mais urgente: desreguladores endócrinos (hormônios), fármacos e poluentes resistentes em baixa concentração na água que bebemos causam doenças como câncer de próstata e mama, além de acelerar a puberdade em crianças e diminuir a produção de esperma nos homens. Essas substâncias naturais ou sintéticas são retiradas em parte no processo de tratamento de água, mas não são plenamente eliminadas e seguem causando danos. “Boa parte dos antibióticos que nós tomamos é eliminado na urina. Após o tratamento da água, parte suficiente do remédio permanece na água para que as bactérias criem resistência a ele”, alerta a professora que defende um tratamento diferenciado para as substâncias mais perigosas. “Os hábitos da sociedade mudaram. Não há como pensar o saneamento como na década de 40. Cabe a nós da academia identificar os problemas e encontrar as soluções para a matriz água”.
Participaram dos debates de quinta-feira, ainda, Virgínia Salerno, diretora de atividades técnicas do Clube de Engenharia e coordenadora do X CBDMA; Ernani de Souza Costa, diretor da ABES-RJ e da Conen; José Henrique Penido, assistente da chefe da Diretoria Técnica e Industrial da COMLURB; o especialista Dan Moche Schneider; e Rodrigo Codevila Palma, coordenador de arquitetura e de projeto para edificações e sistema de teleférico do Complexo do Alemão.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fim do Mundo na Cinelândia, por Luis Turiba publicada no Jornal O Globo


Saio de uma genial palestra de Sérgio Besserman na abertura do X Congresso do Meio Ambiente do Clube de Engenharia, e vou comer arroz integral no restaurante natureba da Cinelândia. Pensativo, macambuzo e um pouco tenso, dou minhas 33 mastigadas enquanto penso que o fim da vida inteligente está realmente próximo e nem nos damos conta. Ao contrário: pagamos as contas como se nada estivesse acontecendo e nem pedimos recibo. Realmente, Besserman tem razão: não há almoço de graça.
O economista ex-presidente do IBGE despejou convincentes e científicas informações sobre aquecimento do planeta, fim das geleiras polares, desertificação dos solos, emissão de CO2, avanços tecnológicos, extração de petróleo e os cíclos de cataclismas cósmicos que acontecem de milhões e milhões de anos com a natureza e o planeta. Ele nos convenceu que algo extraordináriamente caótico está anunciado e pautado para o nosso brevíssimo futuro. Suei frio.
Ao sair do almoço macrô – sim, pretendo estar o mais saudável possível para o fim do mundo -, num calor carioca de quase 36 graus, deparo-me com uma simpática horda de anarquistas ocupando a Cinelândia enquanto o tal fim do mundo não vêm. Já são quase 80 barracas ali, com mais de 200 jovens estudantes, artistas, fumadores de maconha e fiscais da natureza. É um movimento planetário de ocupação de espaços públicos. A mobilização é via facebook, não há lideranças, no máximo o monge tailandês Suvedananda dá lições de meditação grupal. Wall Street foi ocupada contra o capitalismo e agora é a vez da Cinelândia. Um perigo, pois podemos ficar sem carnaval.
Acho tudo muito misterioso, embora não acredite em coincidências: um “cabeção” como Besserman prega durante uma hora a “consciência cidadã planetária”, deixando claro na maior instituição de engenheiros brasileiros que, se não pararmos i-me-di-a-ta-men-te com a exploração do petróleo, babáu: o planeta vai aquecer mais 2,3,4, 5 graus e a consequencia da brincadeira é imprevisível. Quase ao mesmo tempo, meninos e meninas vão à praça pública viver o aqui e agora sem rádio e nem notícias das terras civilizadas. Uma atitude revolucionária, sem dúvida, mas também sem esperança futura, sem sonhos pra logo mais à noite.
Um poeta do grupo Ratos Diversos pega um violão desafinado e canta em ritmo de rap um samba de Assis Valente: “anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/ por causa disso minha gente lá no morro/ começou a rezar.”
Penso nisso tudo, principalmente nas meninas e meninos, filhas e netos. Me pergunto: será que dá tempo?

Luis Turiba, poeta e jornalista

terça-feira, 1 de novembro de 2011

1o. DIA DO X CBDMA FOI UM SUCESSO: LEIAM PALESTRA MAGNA POR SÉRGIO BESSERMAN



"Estamos extinguindo a vida
na velocidade de um apocalipse"
sse foi o alerta do economista e ambientalista Sérgio Besserman Vianna (foto) durante a palestra magna que abriu oficialmente, na manhã do dia 26 de outubro, o primeiro dia do Congresso Brasileiro de Defesa do Meio Ambiente de 2011. Em pouco mais de uma hora, Besserman, que é presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, ilustrou o passado - ao falar da forma com que, ao longo da história, a natureza e a vida no planeta passam por cataclismos naturais, se renovam e sobrevivem -, alertou para um futuro já irremediavelmente comprometido pela ação do homem e destacou, principalmente, um presente que exige uma decisão imediata e uma verdadeira revolução.


Segundo Besserman, a humanidade se comporta como "um dependente químico que não se trata", ciente do problema, mas sem nenhuma reação concreta que aponte para mudança. “Tínhamos um nível de segurança de elevação da temperatura global de, no máximo dois graus. As últimas pesquisas já determinaram que, independente do que façamos agora, teremos uma elevação de três graus nos próximos anos. Alguns cenários apontam para uma elevação de até sete graus”. alertou. Segundo ele, para não passarmos do aumento de três graus de aquecimento, é preciso um completo abandono da nossa civilização e a construção de uma nova economia. “A humanidade está no momento em que deverá decidir se passa ou não da infância para a idade adulta. Vivemos sem muita preocupação, mas a conta chegou. E precisa ser paga imediatamente”, definiu Besserman.
O padre Antônio Canuto, secretário executivo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) falou logo em seguida, destacando as violentas relações de poder no campo, refletidas nas muitas mortes daqueles que lutam pela terra e pela preservação das florestas contra o poderio financeiro e político de madeireiras e grandes latifundiários. Segundo Canuto, por trás das mortes e da violência, há um modelo de desenvolvimento com firmes bases na predação dos recursos, na expoliação dos bens dos mais fracos e na concentração do poder sobre a terra. “Não por acaso, no exato dia em que assassinaram o casal José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, no Pará, o Congresso votava o famigerado código florestal. Quando a morte deles foi anunciada, a bancada ruralista vaiou a notícia. É um retrato fiel do poder no Brasil”, declarou.



Participaram dos debates do dia, ainda, Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia; Marilene Ramos, presidente do INEA; o ex-senador Saturnino Braga; Manoel Lapa, vice-presidente do Clube; Clayton Guimarães do Vabo, presidente em exercício do CREA-RJ; Moacyr Duarte de Souza, coordenador técnico do Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental da UFRJ; Ricardo Valcarcel, chefe do laboratório de Bacias Hidrográficas da UFRRJ e Dieter Carl Muehe, da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais.