O que significa Transprojetação?

A Transprojetação é uma metodologia fundamentada nas obras de Edgar Morin e Michel Thiollent.
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E GESTÃO PARA A SUSTENTABILIDADE com a Soft Systems Methodology e a Pesquisa-ação.



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Brasileiros ainda adoecem por falta de saneamento básico, por EcoAgência

Estudo realizado pelo IBGE mostra grandes desigualdades entre as regiões brasileiras no acesso ao saneamento. Nessa situação, persistem doenças como diarreia e febre amarela, decorrentes da falta de serviços de água tratada e esgoto.

Por Raquel Júnia - Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)

Imagine se na sua casa não chegasse água encanada. Agora, imagine que o esgoto da sua rua corresse a céu aberto; ou que todo o seu esgoto doméstico e o de seus vizinhos fosse jogado no córrego mais próximo. Se você é morador de uma das 33 cidades brasileiras que não contam com abastecimento de água, ou de uma das mais de duas mil onde não há uma rede coletora de esgoto, sabe que esse cenário vai além da imaginação. De acordo com o Atlas do Saneamento 2011, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há uma grande desigualdade entre as regiões do Brasil no quesito saneamento. A partir dos dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB 2008), o Atlas mostra, por exemplo, que na região norte do país, apenas 3,5% dos municípios contam com esgotamento sanitário.
De acordo com o estudo, de 2000 a 2008 as condições de saneamento melhoraram levando-se em conta todo o território nacional, apesar disso, menos da metade dos domicílios brasileiros (45,7%) tem acesso à rede de esgoto. "Se a universalização da rede de abastecimento de água, coleta de esgoto e de manejo de resíduos sólidos constitui parâmetro mundial de qualidade de vida já alcançado em grande parte dos países mais ricos, no Brasil a desigualdade verificada no acesso da população a esses serviços ainda constitui o grande desafio posto ao Estado e à sociedade em geral nos dias atuais", considera o IBGE, na apresentação do Atlas.
De acordo com o Atlas, o saneamento, e mais especificamente o serviço de esgotamento sanitário, avançou mais onde a população mais cresceu, sobretudo nos grandes centros urbanos. Ainda assim, caso você seja morador de uma grande capital, mesmo do sudeste - a região que, segundo o Atlas, é a melhor desenvolvida em termos de saneamento -, pode ser que a poucos quilômetros de sua casa, você encontre situações visíveis de problemas nos serviços de esgoto. A menos de um quilômetro de onde esta reportagem está sendo escrita, no Rio de Janeiro, é possível ver esgoto sendo escoado em um canal de água, um grave problema, conforme alerta o relatório, sem contar o uso que essa população faz da própria água contaminada.

O tamanho do desafio
Contaminação das águas e do solo, adoecimento da população, deslizamentos e inundações: de acordo com o Atlas, todas essas são consequências da falta de políticas efetivas de saneamento básico. Mas para entendermos o tamanho do desafio que o Brasil tem nessa área, é preciso entender o que é saneamento. A professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Simone Cynamon, define: "As pessoas confundem o saneamento com os elementos que o compõem, como abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, drenagem pluvial. Tudo isso é a infraestrutura básica, e todos esses serviços compõem o saneamento. O ser humano é produtor de resíduos, bebemos água e geramos urina, por exemplo. A água que consumimos vem do rio, é tratada e chega até nós com um nível certo de potabilidade. Ao utilizarmos essa água, geramos um resíduo líquido. Então, toda essa água que descartamos, da cozinha, do banho, é esgoto. O saneamento, portanto, é essa ciência que trabalha a proteção do ser humano e do meio ambiente onde ele está inserido. Porque quanto mais se joga resíduo no meio ambiente, mais ele irá gerar doença no ser humano, é um ciclo vicioso", explica.
A professora observa que a preocupação do ser humano com esse cuidado é bastante antiga. "Na pré-história, só o fato de existirem poços para proteger a água já era uma medida de saneamento, só que as pessoas não definiam assim. Nos povos da América, no Peru, por exemplo, havia esquemas de captação de água de chuva, formas diferentes de lidar com os resíduos. Na Roma antiga, havia aquedutos, que é uma forma de conduzir a água. Então, o saneamento existia muito antes da sociedade que conhecemos existir", diz.
A professora ressalta que a população que não tem saneamento é adoecida. Ela destaca que, no Brasil, de 20% a 30% das habitações constituem assentamentos urbanos precários, situação acompanhada de problemas de saneamento. "Há problema de cólera, de hepatite. Mesmo que o esgotamento seja composto de 20% de matéria sólida e 80% de matéria líquida, esses 20% servem de matéria para bactérias e vírus se alimentarem. Há várias doenças de veiculação hídrica gravíssimas, cujo tempo de latência é de dez a 15 dias, de modo que só se perceberá o adoecimento depois. A diarreia que adquirimos muitas vezes não tem a ver com a alimentação, como geralmente se associa, mas é causada justamente por bactérias de água contaminada. Se você lava a fruta com água contaminada, está ingerindo esta contaminação", alerta.
O Atlas mostra que a média brasileira de internações por doenças relacionadas a problemas de saneamento diminuiu entre 1993 e 2008, passando de cerca de 750 a cada 100 mil habitantes para cerca de 300. Entretanto, só em 2008, nos estados do Pará e Piauí, ocorreram de 900 a 1200 internações para cada 100 mil habitantes - os piores estados brasileiros nesse aspecto, seguidos pelo Maranhão, Rondônia e Paraíba, com índices de internação entre 600 e 900 para cada 100 mil habitantes. Embora o quadro geral brasileiro aponte uma queda no percentual de internações por diarréia, o mapa das mortes por essa doença em 2009, também de acordo com o Atlas, mostra regiões críticas nos estados do Pará, Bahia, Piauí, Maranhão, nas fronteiras entre Paraíba e Rio Grande do Norte, e Goiás e Mato Grosso. A ocorrência de dengue é outro grave problema contido no Atlas. Dessa vez, estados da região sudeste também aparecem entre aqueles com maior incidência da doença. O maior número de casos se concentra, em ordem decrescente, nos estados de Sergipe, Rio de Janeiro, Roraima, Rio Grande do Norte, Tocantins, Espírito Santo e Goiás. Os estados com menores índices concentram-se no sul do país, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. São Paulo também está os três estados com mais baixa incidência.

Por que não há saneamento?
O Atlas analisa quatro serviços constitutivos do saneamento básico, a rede geral de distribuição de água, a rede coletora de esgoto, manejo de resíduos sólidos e o manejo de águas pluviais. Em relação à distribuição de água, os dados mostram que é na região norte que a população recebe mais água sem tratamento - mais de 25% da água destinada para consumo humano nessa região não é tratada. O abastecimento de água cobre quase a totalidade do país, 99,4%. "Embora seja evidenciado um movimento no sentido da universalização do serviço de distribuição de água por redes de abastecimento, deve-se, contudo, ter em conta que o avanço demonstrado pelos números não significa o pleno atendimento do serviço à totalidade das populações residentes nos municípios. A pesquisa considera como servido todo município que apresenta ao menos um único distrito, total ou parcialmente contemplado com rede de abastecimento de água, independentemente da eficiência do serviço prestado e do número de ligações domiciliares à mesma", pondera o documento do IBGE. Segundo o estudo, existem 33 municípios brasileiros sem abastecimento total de água, entretanto, há outros 793, grande parte deles na região nordeste, nos quais o abastecimento é feito de maneira alternativa, por meio de cisternas ou outros mecanismos.
A coleta de resíduos sólidos, de acordo com o Atlas, também melhorou, embora a destinação desses materiais permaneça um desafio. Mais de 50% dos municípios brasileiros ainda recorrem a lixões para descartarem o lixo, apesar de a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que vigora desde 2010, preveja que até 2014 todos os lixões do país precisam ser fechados. Os serviços de manejo de águas fluviais também são mais estruturados nas regiões sul e sudeste. Neste aspecto, os municípios menores têm mais deficiências nesse tipo de serviço.
Os dados do Atlas confirmam que a maior deficiência do país está mesmo no esgotamento sanitário. O chefe do Departamento de Saúde Ambiental (Desa) da Ensp/Fiocruz, Paulo Barrocas, analisa por que há pouco investimento nesse tipo de serviço. "A rede de esgoto está enterrada, então, não é uma obra que todo mundo vê, está debaixo do solo. Outra questão é que ainda existe um pouco essa mentalidade de que a solução para a poluição é a diluição, então, eu posso jogar a minha poluição num corpo d'água receptor, aquilo será diluído e irá se resolver o problema simplesmente diluindo. Só que já está claro, com todas as alterações que nós temos nos corpos d'água receptores, que há uma grande contaminação, e não apenas em megametrópoles, mas também em cidades de médio e pequeno porte", explica.
A professora Simone critica o corporativismo que impede que soluções baratas sejam adotadas para resolverem os problemas de saneamento da população. "Há um corporativismo do cimento, do tubo PVC. Em países mais pobres se faz inclusive tubulação de rede esgoto de bambu, basta ter um bom preparo, mas não há interesse em fazer essa tecnologia de baixo custo", pontua. Para a pesquisadora, isso gera as grandes desigualdades reveladas no Atlas. "No Nordeste, há água a cem ou 200 metros abaixo da terra, basta escavar e fazer açudes, mas há um conflito de interesses que impede que isso seja feito. Dá para ter saneamento a baixo custo, mas outras coisas têm mais visibilidade política. O abastecimento de água ainda aparece mais, porque dá para fazer uma torre, por exemplo, mas o esgoto fica escondido, então não gera votos. Esse Atlas reflete a falta de políticas sociais", analisa.

Estações de tratamento não estão preparadas para retirarem novos resíduos
Paulo Barrocas alerta para um grave problema a ser enfrentado nas próximas décadas: o da qualidade da água. "Não é que a água irá desaparecer, mas se a qualidade dos nossos cursos d'água ficar muito ruim. Primeiro será muito caro tratar essa água porque ela estará muito contaminada, exigirá uma série de tratamentos mais caros.Segundo, pode chegar a um ponto que se torne inviável consumi-la", complementa. Ele diz que há hoje a contaminação da água por novos compostos, cientificamente chamados de xenobióticos, ou seja, substâncias sintéticas, que não são encontradas na natureza, mas produzidas em laboratório. O pesquisador explica que a grande dificuldade é que as estações de tratamento não estão preparadas para despoluírem a água e o esgoto desses tipos de substâncias.
"São contaminantes sobre os quais não se conhecia muito. O que se espera tradicionalmente de uma estação de tratamento doméstico é que ela tire matéria orgânica, carbono, nitrogênio, fósforo. Na estação de tratamento de efluentes industriais, isso vai depender do processo industrial. Por exemplo, se é um processo de uma indústria metalúrgica, que trabalhe com metais, será necessário algum processo químico de remoção dos metais, e esses são processos específicos. As estações convencionais de tratamento de água não foram pensadas para tirar, por exemplo, os hormônios - que são exemplos de xenobióticos -, que cada vez mais são lançados ", detalha.
O professor diz que se não houver procedimentos específicos para removê-los, esses materiais permanecem na água. "Esses produtos decorrem de uma série de atividades industriais, principalmente da petroquímica. São principalmente compostos orgânicos, como o bisfenol, que está no produto das mamadeiras. Os agrotóxicos também entram aí. Esses aditivos químicos que utilizamos muito nos alimentos industrializados para terem um aroma, um gosto e uma cor, também. E muitos desses aditivos podem desencadear alergias, principalmente em crianças que têm um sistema imunológico que ainda está sendo desenvolvido. Uma série dessas substâncias sintéticas é lançada no ambiente sem que tenhamos uma certeza absoluta de todo o dano que elas podem causar", alerta. Para o pesquisador, a solução é evitar que esses produtos sejam lançados no meio ambiente, pensando em modificações nos modelos de produção e consumo.

Problemas de saneamento e problemas sociais
Paulo Barrocas destaca que as regiões com os piores índices de saneamento são também aquelas nas quais outros direitos fundamentais são precários. Ele comenta sobre como as populações, dependendo do nível de renda e poder, são atingidas desigualmente pelas falhas de políticas públicas de saneamento. "Não se constrói aterro sanitário no Leblon [bairro da zona sul do Rio de Janeiro], se construirá em um local onde as pessoas não conseguem se mobilizar, porque ninguém quer ter um aterro perto de casa. A capacidade de mobilização e de influência dos diferentes grupos da sociedade está diretamente relacionada com o poder socioeconômico que elas têm.Eentão, às pessoas que tem menos poder, será imposto um maior peso pelos desastres ambientais", compara.
O pesquisador destaca que, entretanto, as condições de saneamento podem afetar todas as pessoas, mesmo em regiões distantes, tanto no interior quanto nas capitais. "Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, captamos água para consumo do rio Guandu. Uma cidade pequenininha pode estar contaminando o rio lá em cima e depois, nós aqui da cidade grande, vamos captar a água para beber. Às vezes a causa de um problema está em um lugar específico, mas as consequências do problema são deslocadas no tempo e no espaço. É difícil caracterizar as consequências de uma contaminação, porque às vezes aquilo irá acontecer 20 anos depois, ou dez quilômetros abaixo. Não tem como fazer uma fronteira e dizer: ‘olha, o vento não pode passar daqui para lá'. Os problemas ambientais, pela sua própria natureza, não respeitam limites políticos, geográficos, por isso necessitam sempre de uma ação conjunta", destaca.
O Atlas mostrou que as condições de saneamento melhoraram mais nas grandes capitais do que no interior. Para a professora Simone Cynamon, a questão do saneamento deve ser pensada a partir de bacias hidrográficas. "O nosso território é amplamente hídrico, então, essa questão de responsabilidades não pode ser dividida exatamente entre estados, municípios e federação. Como o saneamento não pode ser localizado, ele deve ser pensado na bacia hidrográfica como um todo", opina. O Altas também apresenta um estudo relacionando o saneamento às bacias hidrográficas. Em um dos mapas aparecem os locais onde há mais ameaça de poluição aos recursos hídricos, principalmente com o lançamento de esgoto. Há muitas ameaças detectadas em todo o território brasileiro, mas as regiões com maiores problemas são as litorâneas, com destaque para o Nordeste e o Sudeste.

Legislação
Apenas recentemente o Brasil elaborou duas legislações para abordar o problema dos resíduos sólidos e do saneamento como um todo. A Lei nº 11.445/2007 , regulamentada pelo Decreto nº 7.217/2010 estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico no País. Já a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi instituída pela lei 12.305/2010 . "É preciso que todos os entes federados participem para que essas políticas sejam implementadas. Na questão dos resíduos sólidos, a sociedade também é um dos atores que estão previstos naquela política. Então, sem a política não se tem nada, mas é preciso tirar essa letra do papel e aí depende da mobilização da sociedade e do interesse dos governantes", avalia Paulo Barrocas.
A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), ligada ao Ministério das Cidades, está elaborando um Plano Nacional de Saneamento Básico (PlanSab) , conforme determina a lei 11.445. De acordo com a página eletrônica da Secretaria, o plano "será um instrumento fundamental para a retomada da capacidade orientadora do Estado na condução da política pública de saneamento básico e, consequentemente, da definição das metas e estratégias de governo para o setor no horizonte dos próximos vinte anos, com vistas à universalização do acesso aos serviços de saneamento básico como um direito social, contemplando os componentes de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas". A SNSA foi procurada pela reportagem para comentar os dados divulgados no Atlas do Saneamento 2011, mas respondeu, por meio da assessoria de imprensa, que ainda não havia concluído a análise dos resultados e que se pronunciará posteriormente. "Apesar de o saneamento como política pública remontar à década de 1930, quiçá ao século XIX, a dívida social com grande parte da população persiste enquanto um fato permanente na sociedade brasileira, constituindo um desafio a ser transposto em curto e médio prazos pelo Estado e pela sociedade em geral", conclui o Atlas de Saneamento 2011.

(EPSJV-Fiocruz/EcoAgência

EDIÇÕES SESC SP lançam coletânea de diários do pensador francês Edgar Morin, em Conversa Sustentável


Posso afirmar, entretanto, que é nos meus diários que dou o melhor de mim mesmo: são observações, reflexões, julgamentos nos quais me encanto ou me revolto, nos quais minhas qualidades literárias se expressam e desabrocham. (...) Ainda que eu seja percebido de maneira restrita como sociólogo e, por vezes, de maneira mais aberta, mas ainda classificadora e limitada, como “sociólogo filósofo”, sou antes de mais nada um ser humano que ama o que existe de maravilhoso na vida e tem horror ao que ela tem de cruel, um ser humano bastante comum enraizado nos séculos XX e XXI, que neles viveu e sofreu todos os grandes e pequenos problemas.
Edgar Morin, Diários, prefácio à edição brasileira. Paris, Fevereiro de 2012.

Teórico da complexidade, Edgar Morin pode ser considerado um dos principais nomes do pensamento ocidental que reúne em sua trajetória de vida um denso trabalho sistemático de pesquisa, de interpretação, criatividade e de experiências vividas que marcaram o século XX e XXI.
 coleçãoDiários de Edgar Morin, composta pelos títulos Diário da CalifórniaUm ano sísifo e Chorar, amar, rir, compreender, será lançada em São Paulo, no dia 30 de outubro (terça-feira)20h, no Sesc Pompeia (Teatro). O evento gratuito e aberto ao público, contará com a presença do autor. 
Aos 91 anos de idade, o intelectual evoca pelas palavras e pela livre linguagem de diários as suas reflexões, memórias e experiências. Como aponta o Diretor Regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, na apresentação de Chorar, amar, rir, compreender: “(...) em seus diários, (há) uma relação estreita e simples com o complexo, com a tessitura intrincada das relações humanas, discorrendo livremente sobre os dias e suas idiossincrasias, suas percepções sobre fatos políticos e econômicos no planeta juntamente com o corriqueiro viver.”.
Na tênue espessura que não separa a vida da obra, mas a intensifica, encontra-se a figura do humanista Edgar Morin. “Meus diários não tem nada a ver com um diário literário, não visa minha “estatuificação” em poses nobres, mas minha “desestatuificação”, mostrando-me como uma pessoa comum que não esconde nenhuma de suas faltas e de seus erros.”, declara o pensador no prefácio brasileiro dos Diários.

Diário da Califórnia
Escrito no período em que Morin residiu na Califórnia, em 1969, a convite do Salk Institut (centro de pesquisas biológicas presidido por Jonas Salk, Prêmio Nobel de Biologia) onde conviveu com Jacques Monod - bioquímico e biólogo - e John Hunt - biólogo - dentre outros cientistas e pesquisadores que tinham como ponto comum desenvolver suas pesquisas e estudos com uma preocupação humanitária com o individuo e a sociedade.
Em Diário da Califórnia, segundo Adauto Novaes, que assina a orelha da obra “(...) o que observamos neste livro é uma sutil influência do espírito sobre si mesmo, da própria obra teórica e científica de Morin e sobre a vida do autor. (...) Seguindo a tradição de Rousseau, Morin propõe uma nova descoberta da subjetividade como fonte infinita da afetividade”.
Numa narrativa que mistura o rigor da teoria com divertidos acontecimentos, o autor foi buscar na Califórnia dos anos 1960/1970 elementos para dar corpo a suas ideias, desafiando com seu Diário os cânones estéticos e ideológicos que procuravam limitar a arte apenas à ficção.



Um ano sísifo
Com subtítulo Diário sobre o fim do século (1994), Um ano sísifo faz uma analogia com o mito de Sísifo, condenado pelos deuses a levar de volta, continuamente, uma grande pedra ao topo da montanha, depois de ter ela rolado pela enésima vez em direção ao vale. O pensador viu-se, nas palavras de apresentação do filósofo italiano Mauro Maldonato, que fez o texto de orelha desse Diário em “uma punição tremenda: recomeçar tudo, a cada vez, desde o começo. E de novo ainda. Até o infinito”.  
Um ano sísifo na história de um planeta cujas esperanças caíram e onde tudo parece ter que começar do zero. Um ano sísifo na vida de um homem (o autor) onde todas as resoluções para reformar sua vida afundam e que deve partir do ponto zero.
Esse diário caleidoscópico é ao mesmo tempo um espelho dos acontecimentos do mundo e o espelho daquele que os anota. Como o ponto singular de um holograma que traz em si o todo do qual ele faz parte, Edgar Morin viveu o ano sísifo de 1994.
Compõem ainda Um ano sísifo, fatos marcantes e transformadores na história, narrativas sobre a sua vida cotidiana e de eventos públicos, momentos de ternura e melancolia profundos, impressões e perguntas sobre nosso tempo e o contínuo embate entre o “presente da hesitação e uma possibilidade de um futuro”. A resistência que consiste na recusa da automatização dos dias e da vida ecoa no grito de alerta de que não é necessário render-se ao mundo assim, tal como ele parece. 

Chorar, amar, rir, compreender
Em Chorar, amar, rir, compreender, o filósofo espanhol Emilio Roger Ciurana, que escreveu o texto de orelha, enfatiza que o autor olha o mundo, olha a vida e a vive. Trata-se de um olhar e um viver que são reflexos de sua enorme complexidade, universalidade e da concretude da condição humana. Mas não se trata de um simples anotar num diário os eventos que ocorrem no mundo e de acontecimentos na vida cotidiana. Morin vai além de Spinoza, que frente aos acontecimentos do mundo dizia não ter sentido alegrar-se, nem chorar, nem odiar, trata-se de compreender. Morin afirma-se na vida e afirma a vida: “(...) frente aos acontecimentos do mundo faz sentido chorar, amar, rir, compreender".
Trata-se, no cotidiano, de resistir á barbárie humana de uma época bárbara, cruel, devido à incapacidade generalizada de ver a vida e o mundo além da linearidade, da previsibilidade e fragmentação.
A guerra dos Balcãs é um dos principais panos de fundo que ocupam muitas reflexões do texto, além da guerra étnica e o massacre em Ruanda, assuntos de saúde de sua mulher Edwiges com implicações do comportamento dos profissionais da medicina, da traição do amigo, fato que abalou profundamente o autor, viagens, conferencias, debates dentre outros.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

10% do PIB Brasileiro é pouco para resolver este enorme problema!!! No mínimo 30%, sem o qual nunca haverá Soberania!!!

Escassez de talentos no setor de óleo e gás deve se agravar por Projeto Pescar
A grande maioria das empresas do setor de óleo e gás (77,8%), ouvidas em uma pesquisa da consultoria de recrutamento Robert Half, segue otimista em relação às perspectivas de negócios no Brasil. O que preocupa boa parte dessas companhias (44,4%) para que consigam concretizar seus planos, no entanto, é principalmente a falta de mão de obra qualificada no mercado.
A saída para o problema tem sido buscar profissionais na concorrência - resposta de 37,5% -, investir na formação interna de talentos - 20,8% -, contratar estrangeiros e recrutar em outros setores - 12,5% para as duas últimas opções. Segundo os entrevistados, a maior dificuldade é encontrar talentos com experiência na área, inglês fluente e capacidade de trabalhar em equipe.
(Fonte: Valor Econômico)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

ARTIGO:MERCADO IMOBILIÁRIO E AS ÁREAS CONTAMINADAS EM SÃ0 PAULO POR CONVERSA SUSTENTÁVEL

Outubro de 2012
Autoras: Profa. Msc. Vivian Ap. Blaso S.S. Cesar, Profa. Dra.Sasquia Hizuru Obata e Esp. e Geógrafa Ambiental Ellen Blaso.
A transição urbana, a desindustrialização em São Paulo, e as consequências das ocupações inadequadas do solo já foram amplamente discutidas em estudos anteriores, mas hoje o setor imobiliário está diante de um novo cenário: a redução de poder de compra de empreendimentos de imóveis de categoria média e seus redimensionamentos de produtos, a valorização de produtos comerciais diferenciados e de excelência e no extremo inferior o atendimento do déficit habitacional pelo programa de subsídio governamental - “Minha casa, Minha vida”. Tais cenários estão também sob a conjuntura e já em reconhecimento mercadológico dos impactos das pegadas sustentáveis, valorização de empreendimentos imobiliários com certificações verdes, bem como, a procura por estoques de áreas contaminadas em regiões com fortes pressões imobiliárias. Com isso, o setor vem sendo pressionado a requalificar áreas, e buscar por estes estoques, pois existe uma carência por ambientes “virgens” que poderiam ser ocupados para a concepção de novas construções.
O setor imobiliário é um importante agente indutor do processo de concepção da cidade, pois ele articula, através das parcerias público-privadas, as operações urbanas, mas de maneira geral nos aponta que existem lacunas nos aspectos de planejamento urbano da cidade e ocupações de terrenos contaminados e a falta conhecimento da população sobre os riscos inerentes a saúde humana recorrentes aos processos de ocupação nestes locais. Por isso, vale destacar, que se fazem necessários estudos complementares aos fenômenos de ocupação e expansão urbana as suas consequências e implicações nas ocupações em terrenos e áreas contaminadas ou áreas com passivos ambientais. Além disso, os cidadãos tem o direito de escolher se gostariam de morar em um imóvel cujo terreno fazia parte de um estoque de áreas contaminadas na cidade de São Paulo.
A partir da lei 13.577, de 09 de julho de 2009, todo cidadão tem direito de ter informações sobre as áreas contaminadas. A lei dispõe sobre diretrizes e procedimentos para a proteção da qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas, e dá outras providências correlatas. Dentre as medidas previstas podemos destacar:
Garantia à informação e à participação da população afetada nas decisões relacionadas com as áreas contaminadas;
Educação Ambiental;
Possibilitar o compartilhamento das informações obtidas com os órgãos públicos, os diversos setores da atividade produtiva e com a sociedade civil;
Cadastro de Áreas Contaminadas e Remediadas.
Mas o que é percebido é que hoje existe uma falta de conhecimento por parte da população dos riscos inerentes a saúde humana aos terrenos ou empreendimentos que apresentam este tipo de situação. Dessa forma, em função da forte tendência do setor imobiliário por novos estoques de áreas para o seu desenvolvimento se faz necessário estudos mais abrangentes em torno das ocupações das áreas contaminadas e a sua saudabilidade. Outro aspecto importante está na disseminação dessas informações junto à população no sentido de esclarecer e alertar sobre os riscos de tais terrenos sob a vida humana. Sabemos que esse tipo de informação vem à tona quando casos como o do Shopping Center Norte cujo teve grande respaldo das mídias onde a população tomou conhecimento que o Shopping havia sido construído em uma área contaminada e naquele momento estaria com risco eminente de explosão caso não fossem adotadas as medidas plausíveis ao devido gerenciamento dessa área contaminada.
De acordo com matéria publicada na TV Folha em 12 de agosto de 2012, a cidade de São Paulo possui 40 terrenos classificados como contaminados pela CETESB (agência ambiental paulista) estes terrenos estão nas mãos do setor imobiliário e 15 prédios já estariam prontos ou em fase de lançamento para comercialização.
Em outra matéria da Folha publicada em 30 de agosto obtemos as seguintes informações:
“Só no Estado de São Paulo, a CETESB cadastrou, até dezembro, 4.131 áreas contaminadas. Dessas, apenas 264 haviam sido reabilitadas. São terrenos com existência comprovada de poluentes no solo e nas águas subterrâneas”.
Perguntas curiosas deveriam ser feitas por parte dos consumidores caso eles tivessem consciência dessas informações sobre áreas contaminadas e seus riscos:
Quais os riscos a saúde humana caso o gerenciamento não seja realizado adequadamente?
Qual o tipo de contaminações essa população estaria exposta?
Quem deve gerenciar essa área e por quanto tempo?
Quais os sinais visíveis de possíveis problemas que poderiam causar inclusive explosões como foi o caso do Shopping Center Norte?
De quem é a responsabilidade pelo terreno, após a ocupação do empreendimento? Dos moradores, no caso de condomínios residenciais? Quais os custos de gerenciamento?
Por outro lado, o conhecimento por parte de empresários e construtores das tecnologias de remediação e descontaminação de terrenos, suas metodologias e custos passam a ser referenciais de viabilidades de empreendimentos imobiliários.
Viabilidades que são por princípio de atendimento a sustentabilidade de modo amplo e pelo próprio princípio de resgate de áreas pela melhoria ambiental e também como viabilidades de diferenciação do produto imobiliário através de pontuação em certificações.
No que concerne à viabilidade de empreendimentos e estoques de terrenos a serem utilizados em remediações e descontaminações, há ainda mais dois atores além dos usuários finais / população do entorno, empresários e construtores, ou seja, os investidores e o poder público, ambos importantes para as viabilidades destas ações, a saber:
Os investidores veem como diferencial de sustentabilidade a aplicações de seus fundos em empreendimentos sob estas condições de remediações e descontaminação, vendo a precificação diferenciada e valorização não só do imóvel como da imagem mercadológica.
O poder público, no momento possui bases normativas, mas ainda residem questionamentos sobre as formas de certificações e aprovações e ainda a falta de incentivos para estas ações.
Contudo, o setor imobiliário, vem utilizando recursos da “publicidade verde” para proporcionar uma plasticidade entre o presente e o futuro na comercialização de empreendimentos cujos terrenos foram construídos em áreas contaminadas sendo assim, questões morais e éticas que envolvem os terrenos contaminados em São Paulo devem ser discutidos e colocados na pauta da sociedade civil, do poder publico e do interesse privado.
Ao considerarmos o meio artificial como os terrenos contaminados e o meio ambiente como dispositivo de urgência poderíamos considerar que a sustentabilidade vem se reafirmando como um meio capitalista de utopia por um futuro melhor?
Um planeta ingovernável onde se convoca a participação da sociedade por uma cultura de paz com cidades resilientes - será que estaríamos mesmo "preocupados" em resguardar uma comunidade que ocupa terrenos contaminados colocando em risco a saúde e a vida das pessoas?

SOBRE AS AUTORAS:

Vivian Ap.Blaso Souza Soares César - Doutoranda e Mestre em antropologia - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, membro do corpo docente do curso de Pós Graduação Lato-sensu em Construções Sustentáveis e Publicidade e Propaganda da FAAP. vivianblaso@uol.com.br
Sasquia Hizuru Obata - Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Mestre em Engenharia Civil, Docente nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil da FAAP e Universidade Cruzeiro do Sul e Coordenadora do Curso em nível de Pós-graduação Lato-sensu em Construções Sustentáveis da FAAP. sasquia@terra.com.br
Ellen Maria Blaso de Souza - Geógrafa Ambiental, Especialista em Gerenciamento de Áreas Contaminadas, Educação Ambiental Empresarial e Sócia da Consultoria e Assessoria Mercadológica Conversa Sustentável. ellenblaso@conversasustentavel.com.br

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dificuldade de encontrar mão de obra qualificada por Projeto Pescar

Dos 192 milhões de brasileiros, 93 milhões estão aptos a trabalhar. O descompasso entre as oportunidades de emprego e a falta de mão de obra qualificada para ocupar estes postos de trabalho foi notícia do Jornal Nacional. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, cerca de 90% dos novos empregos no Brasil com carteira assinada exige pelo menos o ensino médio completo, o antigo colegial. Só que quase metade dos trabalhadores não completou nem o ensino fundamental, da primeira à oitava série. E 16% enquadravam-se na condição de analfabetos funcionais, aqueles que, embora consigam ler, não são capazes de interpretar textos ou fazer as operações matemáticas mais simples.
O problema aparece mesmo entre quem já terminou o ensino médio. Os recrutadores tiveram que incluir até ditado nos testes por causa dos erros em textos de funcionários nas empresas. Um teste feito por um aluno do terceiro ano de economia. De 30 palavras ditadas ele errou 28.

Projeto Pescar – Qualifica jovens em situação de vulnerabilidade social para o mundo do trabalho, através de uma Tecnologia Social própria, que cria espaços de qualificação e desenvolvimento pessoal no interior de organizações parceiras.

Conheça www.projetopescar.org.br